Situado a cerca de 1,5 quilómetros da Faixa de Gaza, este ‘kibbutz’ (pequena comunidade israelita) foi um dos primeiros a ser atacado pelos militantes do grupo islamita. Dos 960 habitantes, morreram 58 pessoas e 17, “incluindo muitas crianças”, foram feitas reféns pelos combatentes.
“Aqui, o tempo congelou. Hoje é 7 de outubro, 5:45, quando os terroristas se infiltraram, e fizeram-no de três formas: pelo portão principal, por via aérea, e com veículos, do lado ocidente, o mais próximo de Gaza”, relatou um oficial das Forças de Defesa de Israel (FDI), durante uma visita do ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, acompanhado dos homólogos israelita, Eli Cohen, e eslovena, Tanja Fajon.
O chefe da diplomacia israelita descreveu a comunidade como “muito tranquila”, onde as pessoas “vinham passar férias” e “tinham uma boa qualidade de vida”.
Pequenas casas térreas distribuem-se pelo bairro, rodeadas de árvores e relva, intercaladas com vários abrigos, quase todos pintados com motivos florais coloridos.
“Em caso de se ouvir uma sirene, as pessoas têm 10 segundos para se esconder. É o tempo que demora a cair um foguete”, explicam as autoridades.
Cada casa também tem uma divisão que é um abrigo (‘safe room’), mas que no dia do ataque não serviu de proteção para muitas famílias.
“São espaços desenhados para se fugir em caso de emergência e por isso as portas e janelas não podem ser trancadas”, justificou o militar.
Aos três ministros, o responsável mostrou o interior de algumas casas, queimadas ou crivadas de marcas de balas, onde muito ficou como naquela madrugada: escovas de dentes num copo em cima do lavatório e toalhas de banho penduradas atrás da porta.
“Atrás dos terroristas, vieram muitos habitantes normais de Gaza, que pilharam as coisas”, conta o militar, enquanto aponta para um monte de roupa atirado para o chão em frente a uma casa e pega numa peça de roupa, ainda com a etiqueta do preço: “Olhem, nova em folha, esta mulher nem teve tempo de a usar”.
Mostrando “fotografias horríveis”, o membro das FDI descreveu como os militares encontraram “muitos corpos com as mãos atadas, que foram alvejados na cabeça e queimados”.
“Há muitos casos em que não pudemos identificar os corpos. Em muitos locais, tivemos de trazer arqueólogos”, disse.
Desde o ataque, os habitantes foram transferidos para um outro ‘kibutz’ mais próximo da capital, Telavive, e a pequena vila permanece vazia.
“Depois do dia 07 de outubro, o mundo inteiro sabe que o Hamas cometeu atrocidades terríveis contra uma população indefesa, civil, mas vir aqui a um dos ‘kibutz’ que foi atacado e ver ‘in loco’ a enorme proximidade em relação a Gaza e as atrocidades que foram cometidas contra famílias, mães, pais, crianças pequenas, pessoas mais idosas, obviamente que é profundamente chocante”, comentou o ministro Gomes Cravinho, que salientou ao mesmo tempo a necessidade de pensar “no presente e no futuro”.
“A memória daquilo que aconteceu faz parte da nossa memória coletiva e obviamente que aqui em Israel é uma memória profundamente dolorosa. Temos no entanto de olhar agora para aquilo que se pode fazer hoje, o que se pode fazer amanhã e, a partir dessas ideias, começar a pensar como é que se vai construir a paz”, salientou.
A ministra eslovena admitiu-se igualmente chocada com o cenário de destruição no ‘kibbutz’.
“Cada civil inocente, cada criança, cada mulher que está aqui é uma vítima. Estamos solidários e em luta contra todas as formas de extremismo”, disse Tanja Fajon.
O chefe da diplomacia israelita destacou: “Estamos obrigados a eliminar o Hamas. Temos de libertar Gaza do Hamas, para a segurança de Israel e também pelo povo de Gaza e temos de garantir que tais atrocidades não vão repetir-se em qualquer lugar no mundo”.
A visita decorreu ao início da manhã, poucas horas depois do início da trégua de quatro dias nos combates acordada entre Israel e o Hamas.
*Reportagem por Joana Haderer (texto), enviada da agência Lusa, com André Sá.
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