No domingo foram salvas quatro crianças, na segunda-feira outras tantas, e hoje a prioridade definida pelas autoridades aponta para o mesmo número de extrações da gruta, ficando o treinador, que foi monge budista durante uma década, para a última tentativa de resgate, de preferência ainda durante o dia, já que as condições climatéricas pioraram nas últimas horas.
Quando a equipa de mergulhadores britânica encontrou os jovens, estes estariam a meditar, num exercício que tem ajudado a acalmar as crianças desde 23 de junho, quando foram surpreendidas pela inundação parcial do complexo subterrâneo montanhoso Doi Nang Non.
Ekkapol Chantawon, conhecido por "Ake", tinha apenas 10 anos quando perdeu a família, primeiro o irmão, de sete anos, depois a mãe e o pai um ano depois, conta o The Australian, que entrevistou Umporn Sriwicha, tia do jovem, que está a acompanhar as operações de resgate.
O agora treinador, de 25 anos, foi um monge budista durante uma década e, de acordo com várias publicações e agências noticiosas, tem ensinado as crianças a meditar, não só para assegurar que se mantenham calmas, mas também que reservem as energias numa situação extrema que dura há mais de duas semanas.
"Ele ensinou aos rapazes na gruta a meditar. Quando os mergulhadores os encontraram os rapazes estavam a meditar. Os estudantes disseram aos socorristas que Ake os ensinou a meditar para preservarem a sua energia", adiantou também Umporn Sriwicha, acrescentando que este fará tudo o que estiver ao seu alcance para manter estes rapazes calmos e vivos.
"É muito provável que enquanto os rapazes estiveram presos na caverna sem serem descobertos tenham experienciado vários graus de ansiedade, medo, confusão, vulnerabilidade e dependência, e, talvez, desespero", assumiu Paul Auerbach, do Departamento de Medicina de Emergência da Universidade de Stanford, citado pela Associated Press (AP)
"Os adolescentes são criaturas sociais especiais, e ter amigos com eles, assim como o treinador, seria uma ajuda tremenda", considerou David Spiegel, professor de psiquiatria e ciências de comportamento na universidade de Stanford.
Escreve a Associated Press que os rapazes e o treinador são conhecidos por ser um grupo unido, que tem várias atividades em conjunto, desde nadar em cascatas, fazer percursos de bicicleta na montanha, explorar grutas e fazer rafting (descer rápidos de barco insuflável).
Especialistas consideram que a capacidade de meditar de Ekkapol Chantawong terá serviço bem o grupo: "Especulo que tenha sido uma ajuda — mesmo que funcione apenas como uma forma das crianças sentirem que o treinador está a fazer algo para as acalmar", disse Michael Poulin, professor de psicologia na State University de Nova Iorque, também citado pela AP.
Depois do sucesso de segunda-feira, que eleva para oito o número de crianças que estão já a receber tratamento hospitalar em Chiang Rai, capital da província, o líder da célula de crise salientou a maior rapidez da operação, que necessitou de menos duas horas do que o primeiro resgate.
“Pensamos que podemos fazer melhor amanhã [hoje], e vamos ter sucesso: 100%!”, disse Narongsak Osottanakorn na última conferência de imprensa, cerca de duas horas depois das operações de resgate serem ontem suspensas.
Chuvas fortes estão a marcar hoje o início das operações de resgate, que terão começado pelas 08:00 (02:00 em Lisboa).
Este era o cenário que as autoridades tailandesas receavam, colocando mais pressão ainda na missão dos mergulhadores, uma vez que continuam a chegar informações sobre a descida na percentagem de oxigénio no ar no complexo subterrâneo da Doi Nang Non, que se estende por quatro quilómetros, com água a atingir o teto em algumas secções.
No domingo também choveu bastante, mas na segunda-feira o mesmo chefe da célula de crise afirmou que tal não tinha alterado o nível da água na gruta.
*Com João Carreira, enviado da agência Lusa
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