“Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe!”, grita alguém no vídeo. No meio de gargalhadas, um jovem negro, é posto atrás do tubo de escape de um automóvel. No meio de um círculo de pessoas, que riem à gargalhada, o carro acelera, libertando uma nuvem de fumo espesso, que supostamente o jovem inala. Pelo meio, alguém lhe chama Marega.
As imagens geraram comoção nas redes sociais. Um dia após os insultos racistas que motivaram o atleta do FC Porto a abandonar o jogo com o Guimarães, o vídeo — com pouco mais de um minuto — mostrava uma alegada agressão racista. As autoridades encetaram investigações — e concluíram que tudo não passou e uma aposta.
Fonte da PSP disse esta quinta-feira ao SAPO24 que as autoridades já falaram com os intervenientes no vídeo e "o jovem afirmou que o fez de livre vontade no contexto de uma aposta". O vídeo foi gravado num "contexto de um grupo de amigos inter-racial, com elementos caucasianos e negros".
Os sete jovens que participaram no vídeo, "principalmente aquele que tem a cara encostada ao tubo de escape, foram ao final do dia de ontem identificados pela PSP, apurando-se ter-se tratado de uma aposta realizada livremente entre os intervenientes, no contexto de um grupo de amigos", disse também a PSP, já num comunicado ao final desta manhã.
O vídeo, onde se vê um jovem negro a ser aparentemente forçado a inalar o fumo do escape de um automóvel, foi gravado no dia 17, segunda-feira, à noite, na área da Grande Lisboa, um dia após o polémico jogo em Guimarães. Os intervenientes têm todos entre os 22 e os 25 anos.
A investigação da PSP foi motivada depois de durante esta quarta-feira vários cidadãos terem feito chegar o “vídeo que se havia tornado viral e no qual um jovem era levado por outros a aproximar a cara do tubo de escape de uma viatura em funcionamento”, diz a polícia, já num comunicado.
“Pelo facto de ser possível perceber no vídeo que alguém acelerava a viatura de forma insistente, levando a que o fumo proveniente desta fosse projetado contra a cara do jovem que mantinha a mesma junto ao tubo de escape, a PSP de imediato iniciou uma investigação sumária com o fim de perceber em que local, com que pessoas e qual o contexto da realização do vídeo”, acrescenta.
Apesar do contexto amigável, “e porque o jovem visualizado no vídeo poderá ter sofrido lesões pela inspiração do fumo, a Polícia de Segurança Pública irá transmitir toda a investigação ao Ministério Público, para avaliação do possível enquadramento em contexto de legislação penal”, explica o comunicado da PSP.
O vídeo começou a circular nas redes sociais numa altura em que se discute o racismo no futebol, tendo sido condenado no Facebook pelo dirigente da SOS Racismo, Mamadou Ba, que o descreveu como "um aviltante atentado à dignidade", sublinhando que "independentemente das circunstâncias e da identidade dos criminosos, o caráter sádico e aviltante, com requintes de tortura, não pode ficar impune, sejam quem forem os criminosos".
Também o humorista Rui Unas condenou as imagens.
A PSP não deixa de agradecer "a todos os cidadãos que, tendo visualizado as imagens e as consideraram chocantes, de imediato, as referenciaram e possibilitaram a N/rápida reação e apuramento dos factos".
Este domingo, o avançado do FC Porto Moussa Marega recusou-se a permanecer em jogo e abandonou o campo, ao minuto 71, após ter sido alvo de insultos racistas por parte dos adeptos do clube vimaranense, numa altura em que os ‘dragões’ venciam por 2-1 — anotou o segundo golo —, resultado com que terminou o encontro da 21.ª jornada da liga, no domingo.
O Ministério Público instaurou um inquérito na sequência deste incidente com Marega, que já mereceu a condenação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, entre outros.
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