“O Vox estará para o Partido Popular [espanhol] como a Aliança está para o PSD”, afirmou Nuno Melo, em entrevista à Lusa, referindo-se à recém-formada Aliança, de Pedro Santana Lopes, que considera “uma dissidência” do PSD.
Para Nuno Melo, candidato a um terceiro mandato no Parlamento Europeu nas eleições de 26 de maio, “o Vox é catalogado de extrema-direita”, mas, quem assim o afirma, devia “conhecer o programa do Vox” e “ler o programa do Vox”.
“O presidente do Vox era do PP, é um basco, filho de um histórico do PP, que no essencial, tem a agenda política do PP com duas diferenças fundamentais, que tem que ver com as tradições, que mobilizam muito em Espanha: a festa taurina e a caça. E depois, uma outra circunstância que levou a que fosse considerado radical, a questão das autonomias”, afirma
Para o eurodeputado e vice-presidente do CDS-PP, “90% do que está no programa do Vox encontra-se no [programa do] PP”, tal como “nos Ciudadanos encontra muito do PSOE e do PP”.
“O Vox beneficia de uma intuição ou perceção do eleitorado no sentido que o PP também não foi dando as tais respostas para problemas sentidos, beneficia também dos escândalos de corrupção que afetaram o PP, como afetaram o PSOE, beneficia de uma instabilidade geopolítica que tem muito a ver com a Catalunha, com esta forma do governo que, para permitir a ascensão do Pedro Sánchez, vai buscar antigos etarras e radicais independentistas catalães”, enumera como elementos de um “caldo [que] potencia o surgimento do Vox”.
E, assegura, o Vox “é uma deriva do PP”, “um partido de direita”, “talvez à direita do CDS em Portugal, mas é um partido de direita”.
“Volto a insistir, leiam o programa do Vox. Não vão pelos títulos, nem pelos rótulos”, afirma.
“Verão que é um partido europeísta, um partido que defende muito o que defende o PP, muito o que defende o PSOE, e tem estas três circunstâncias”.
“Não estranharia, por exemplo, que o Vox viesse no final a entrar no PPE”, admite, referindo-se à maior família política europeia, o Partido Popular Europeu (PPE), de que fazem parte o CDS e o PSD.
Questionado sobre a permanência no PPE, embora suspenso, do Fidesz, do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, admite que “gostava que o partido ficasse”, porque isso “significava que tinha-se verificado que não violava os princípios fundacionais do PPE e que tinha-se comprometido com esses valores em relação ao futuro”.
“Ao demonizarmos o Fidesz não ganhamos nada […] Devemos é, pelo contrário, fazer tudo para que o Fidesz se recoloque na linha da moderação”, defende, acrescentando preferir “ter o Fidesz a ultrapassar problemas, mas mantendo-se preso às democracias e àquilo que elas significam”.
“O que fizemos foi um sinal muito claro em relação ao Fidesz e em relação a Viktor Orbán. […] Teve um custo político […] com os socialistas e toda a esquerda de pé a aplaudir. […] Mas o que fizemos foi por uma razão de princípio”, sublinha.
E critica os socialistas europeus, e particularmente o PS, por não ter atitude semelhante em relação à Roménia, à Eslováquia ou a Malta.
“O que se passa hoje na Roménia e muito pior do que se passa na Hungria. E temos a comissária romena [Corina Cretu] a vida dar a mão para salvar o Pedro Marques”, acusa, referindo-se à notícia, divulgada pela SIC, de um vídeo da comissária elogiando o cabeça de lista do PS, Pedro Marques.
“Ou seja, em vez de censurar o governo da Romênia, o PS pede ajuda e dá-lhe a mão”, censura. “Não está a ver propriamente o PPE, o CDS ou o PSD, a pedir a quem seja para vir cá vir dar a mão na nossa campanha”.
* Por Maria de Deus Rodrigues e Nuno Simas (texto) e António Cotrim (fotografia) /Lusa
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