"Obama foi um Presidente honesto, sem escândalos e um grande homem de família. Um presidente com integridade, que nos fez acreditar e ter esperança. Foi um líder numa altura em que o mundo muito precisa deles", diz à Lusa Ana Ventura Miranda, diretora do Arte Institute.

Luís Pires, diretor do jornal Luso-Americano, diz que "a história irá olhar para Obama como um Presidente simpático, extremamente humano, leal aos seus princípios e honesto, mas também consciente de que poderá ter sido traído por algum conceito demasiado liberal".

Fernando Gonçalves Rosa, presidente da PALCUS (Portuguese-American Leadership Council of the United States), refere acreditar que o democrata "vai ser recordado como um Presidente com caráter, que não criou escândalos, mas que não conseguiu um diálogo com aqueles que a ele se opuseram".

Fernando Rosa acrescenta que a maior derrota do democrata, aquilo que não permitiu avançar mais a sua agenda, "foi não ter conseguido criar um diálogo com a maioria republicana" que controlou as duas câmaras do Congresso desde 2010.

Os três representantes acreditam que a economia, em que o desemprego baixou de 10 por cento para 4,9 por cento e em que a recessão de 2008 foi rapidamente ultrapassada, foi a sua maior vitória.

"Embora muitos americanos ainda não sintam qualquer ganho, estruturalmente os oito anos de Obama foram um sucesso e ele impediu a economia americana do colapso total", diz Ana Ventura Miranda.

Por outro lado, aponta Luís Pires, a sua administração "contribuiu para o aumento da dívida de 20 triliões em 2016, quando no ano 2000 era de 5,9 triliões".

A reforma do sistema nacional de saúde, que beneficia neste momento perto de 30 milhões de americanos, é outra das vitórias apontadas.

"O Obamacare ainda tinha muitas falhas, mas era um início", diz Ana Ventura Miranda, que não acredita que o programa vá resistir à presidência de Donald J. Trump.

A nível de política internacional, estes representantes acreditam que Obama podia ter feito mais, mas, como nota Fernando Rosa, "o que ficará nos livros de história é que foi o Presidente que reabriu o diálogo com Cuba e deixou entender a Israel que precisa de ouvir os amigos e aliados".

Todos concordam que ser o primeiro Presidente afro-americano já garante um lugar na história do país, mas a sua eleição também ajudou a perceber que os problemas raciais do país não estão ultrapassados.

Se, por um lado, Rosa acredita que o americano "falou aberta e honestamente sobre os problemas raciais" e que esse diálogo é positivo, Ana Miranda nota que "a divisão entre brancos e negros tem sido cada vez maior."

"O movimento ‘Black Lives Matter' cresceu durante a sua presidência e o sucesso de Trump é também interpretado como uma reação a esta divisão", explica.

Ainda a nível social, estes portugueses acreditam que a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, possibilitada pela nomeação de dois juízes liberais para o Supremo Tribunal, será o acontecimento com maior ressonância histórica.

A aprovação do Acordo de Paris e a forma como "preparou a economia dos EUA para um futuro mais verde e amigo do ambiente, apoiando a pesquisa e o desenvolvimento de novas energias renováveis com 90 biliões de dólares", como nota Miranda, também iniciou uma revolução energética que será difícil travar.

Os três representantes concordam, no entanto, que "só no futuro” se poderá avaliar melhor o resultado de muitas das suas decisões" e que esse trabalho, que começa agora a ser feito, pode ser facilitado com a eleição de Donald J. Trump, cujas propostas vão de encontro a muito do que Obama defendeu.

"O Trump é controverso para a maior parte dos americanos. Obama nunca foi, apesar de as pessoas poderem ou não concordar com as suas opiniões e políticas. Com certeza sentiremos falta da integridade e do estilo de Obama", conclui Ana Miranda.