Na intervenção de encerramento no debate do Orçamento do Estado, Pedro Passos Coelho voltou a acusar o Governo de recorrer a planos B para cumprir as metas orçamentais, com um aumento das cativações em “valores históricos” ou uma travagem “a fundo” no investimento público e na despesa corrente do Estado.

“O Governo socialista e a maioria radical comunista não se deram por vencidos. Se a realidade se atravessa numa boa narrativa, mantém-se a narrativa e nega-se a realidade. Foi literalmente o que fizeram. Esconderam e dissimularam primeiro, e negaram depois e sempre este plano B orçamental, e lá continuaram a sua retórica violenta contra a austeridade do passado, disfarçando, mas prosseguindo, a nova austeridade dos impostos indiretos e das cativações”, acusou.

O líder do PSD lamentou que, num país com “uma elevada dívida pública e com enorme sensibilidade a variações na taxa de juro”, o Governo eleja como principal objetivo não a consolidação estrutural e a descida do rácio de dívida pública, mas antes o crescimento da despesa estrutural.

“Prosseguindo este caminho, como está prometido, teremos uma legislatura inteira perdida para este objetivo estratégico do país, a troco de garantir a satisfação da ambição política de um Governo que só quer sobreviver e reescrever a história do seu próprio passado irresponsável”, lamentou.

Passos Coelho teve de acelerar na parte final do seu discurso, do qual não leu algumas páginas da versão escrita distribuída aos jornalistas, mas justificou o voto do partido contra o Orçamento do Estado para 2018.

“O nosso voto contra este orçamento justifica-se, pois, plenamente. É um orçamento com os olhos postos no presente e na comodidade dos elementos que suportam o Governo (…) Imerecida é a consequência para o futuro dos portugueses desta forma de estar na política da liderança socialista e dos seus apoiantes interessados. Mas disso, estou convencido, tratará o país na oportunidade certa”, defendeu.

Passos Coelho acusou ainda o executivo de não ter feito qualquer reforma importante e lamentou que da reforma do Estado fiquem apenas “as mentirelas que se sujeitam a desmentidos constrangedores”, considerando que o último veio hoje da boca da presidente do Infarmed, que refere que o ministro da Saúde lhe garantiu que a transferência da entidade seria apenas “uma intenção”.

“Já não estamos, pois, no domínio da política, estamos na presença da pura comédia e do ridículo””, criticou.

Também sobre o descongelamento de carreiras, o presidente do PSD alertou que o país “sabe pouco” do que virá a acontecer, referindo que sobre esta matéria o orçamento não mudou, “mudou foi a conversa do Governo”.

“Agora, diz a ministra da Presidência, o impacto em 2018 do descongelamento das carreiras vai custar afinal mais de 640 milhões de euros. Mas tudo será feito faseadamente e sem revisão de carreiras. Podemos ficar descansados, porque a comédia e o ridículo vão continuar”, ironizou.

Também os parceiros de esquerda foram englobados nesta designação da “comédia e do ridículo”, com o líder do PSD a criticar as declarações da coordenadora do BE, Catarina Martins, sobre a baixa dotação da cultura e as do PCP sobre a demarcação em relação às chamadas políticas de direita”.

Passos Coelho criticou, a este propósito, as recentes afirmações do primeiro-ministro, António Costa, de que é uma “ilusão pensar que é possível tudo para todos”.

“Não é apenas uma ironia penosa, é também uma perversa assunção de que se pode fazer tudo e dizer o que é conveniente mesmo que se tenha decidido fazer o contrário e continuar a fazer de conta. Porque o contrário do que é agora dito foi justamente o que foi feito nestes anos, e é o que se promete continuar a fazer”, considerou.

Passos Coelho já anunciou que não se recandidata ao cargo de presidente do PSD, que ocupa desde 2010, pelo que esta poderá ter sido uma das suas últimas intervenções em plenário nessa qualidade.

[Notícia atualizada às 18:55]