Este foi um dos poucos pontos de discórdia em torno da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2019 na reunião da Comissão Política Nacional do PS, que durou menos de duas horas.
Segundo dirigentes socialistas contactados pela agência Lusa, António Costa procurou salientar a ideia sobre a necessidade de se seguir "um rumo de responsabilidade" no Governo socialista.
António Costa começou por referir que, em novembro de 2015, quando se formou o atual executivo, suportado no parlamento pelo Bloco de Esquerda, PCP e PEV, disse que o PS não podia ser "o PASOK", numa alusão às duras políticas de austeridade postas em prática pelos socialistas gregos.
No entanto, na sua intervenção desta noite, António Costa acrescentou outro exemplo a evitar: "Afirmou que o Governo do PS não podia terminar a legislatura como o PT (Partido dos Trabalhadores) do Brasil", referiu à agência Lusa um dos membros da Comissão Política socialista.
António Costa, tal como tinha feito horas antes na reunião com a bancada socialista, no parlamento, também na Comissão Política Nacional do PS falou principalmente sobre a proposta orçamental, acentuando ali a vertente das "boas contas" para que se "mantenha a confiança" no executivo.
O líder socialista, por várias vezes, salientou a necessidade de o Governo "continuar um rumo de responsabilidade", com melhoria dos rendimentos dos portugueses, mas com consolidação orçamental e com medidas de estímulo ao investimento empresarial.
Após esta intervenção, o dirigente sindical da UGT José Abraão pediu a palavra para criticar a proposta de Orçamento no que se refere a política salarial, alegando que os funcionários públicos "estão a atravessar o período mais longo de sempre sem aumentos dos vencimentos".
"Continuamos com os valores dos vencimentos de 2009. Embora valorizemos o descongelamento das carreiras, não se pode confundir uma coisa com outra. É inaceitável o discurso de que há 800 milhões de euros para os funcionários públicos, passando-se a ideia de que somos todos despesistas", declarou José Abraão aos jornalistas no final da reunião da Comissão Política Nacional do PS.
José Abraão contou ainda aos jornalistas que, dirigindo-se a António Costa, advertiu que "há mais vida para além do défice".
"O secretário-geral do PS respondeu-me contrapondo que há mais vida para além do Orçamento", disse, adiantando, igualmente, que António Costa remeteu a questão dos aumentos salariais para a negociação sindical "e até para 2020".
Perante os jornalistas, o sindicalista da UGT mostrou-se insatisfeito com os resultados da reunião, comentando mesmo que a questão das médias invocadas por membros do Governo, como o ministro das Finanças, Mário Centeno, "é como a história do frango".
"Há um come que come a asa e dois que comem o resto, mas há um que continua com fome. Há milhares de trabalhadores da administração pública que não terão qualquer descongelamento de carreiras em 2019 e que, rigorosamente, vão manter o salário que tinham em 2009", justificou.
Na reunião da Comissão Política do PS, o antigo secretário de Estado das Obras Públicas Paulo Campos fez também uma intervenção em que criticou os níveis de investimento público previstos na proposta de Orçamento e em que defendeu as políticas seguidas pelos governos socialistas entre 2005 e 2011, sob a liderança de José Sócrates, elogiando, em particular, os resultados das Parcerias Público-Privadas.
Dirigentes socialistas referiram à agência Lusa que o secretário-geral do PS recusou que haja secundarização do investimento público, criticou o investimento pouco seletivo e advogou a necessidade de o seu partido "virar a página", não repetindo "exageros" do passado".
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