Esta referência de António Costa à “demissão irrevogável” do antigo líder do CDS Paulo Portas, que acabou por não acontecer no Governo de Pedro Passos Coelho, foi feita em reação a uma intervenção de Telmo Correia na abertura do debate da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2021.
O presidente do Grupo Parlamentar do CDS-PP considerou que a solução política que António Costa usou em novembro de 2015 para “chegar ao poder sem ganhar as eleições está a acabar e está a esgotar-se”.
“Agora que já não há muito para distribuir, agora que é mais difícil, lá se vai a sua maioria. Bastará que o PCP dê uma instrução ao PEV para não votar da mesma maneira para que o seu grande projeto fique preso de uma dissidente de um partido radical [Joacine Katar Moreira] e de uma cisão num partido animalista”, declarou, aqui numa alusão à deputada Cristina Rodrigues.
Mas Telmo Correia referiu-se sobretudo à demarcação dos bloquistas face à proposta de Orçamento do Governo, colocando então algumas questões a António Costa.
“Só agora percebeu que o Bloco de Esquerda era oportunista? Só agora percebe que é um parceiro para as boas horas enquanto há coisas para dar e que nas horas complicadas salta fora? O senhor primeiro-ministro tem um problema político, mas não fui eu que me meti nesse buraco”, concluiu o presidente do Grupo Parlamentar do CDS.
Perante este ataque de Telmo Correia, António Costa começou por tentar relativizar os desentendimentos dentro de uma maioria com várias forças políticas. Depois, usou a ironia: “Não sei se a decisão do Bloco de Esquerda em relação a este Orçamento é mais ou menos irrevogável que a decisão do CDS de abandonar o Governo com o PSD”, comentou, numa alusão à crise interna que se instalou no executivo de Passos Coelho no verão de 2013.
O primeiro-ministro afirmou depois que nunca será acusado de ter “menor respeito pela autonomia política do Bloco de Esquerda, seja quando vota à esquerda, seja quando decide somar o seu voto ao voto do CDS para rejeitar o Orçamento na generalidade”.
“Cada um é livre de se autodeterminar e eu respeito igualmente as opções. A responsabilidade é de cada. Cada um sabe se vota à esquerda ou se vota com o CDS”, acentuou, num novo recado dirigido à bancada do Bloco de Esquerda.
Na sua intervenção, Telmo Correia classificou também como “curiosa” a estratégia do primeiro-ministro “de ignorar completamente” a disponibilidade para o diálogo por parte do PSD, dizendo mesmo que António Costa se revela “pobre e mal agradecido” em relação aos sociais-democratas, sobretudo depois de estes terem convergido com os socialistas na Assembleia da República para porem fim aos debates quinzenais no parlamento.
Na resposta a este ponto sobre as relações entre PS e PSD, o primeiro-ministro voltou a rejeitar uma solução de “Bloco Central” para travar a emergência de populismos no sistema político português.
E pegou na defesa que antes o líder parlamentar do CDS tinha feito a favor de uma contratualização do Estado com os setores privado e social da saúde como solução para um combate mais eficaz à pandemia da covid-19 para traçar uma linha de demarcação ideológica entre esquerda e direita.
“Nós acreditamos que a melhor forma de combater a pandemia é reforçar o Serviço Nacional de Saúde, mas é bom para a democracia que a direita portuguesa diga o contrário com clareza. A direita não quer esse reforço, mas pretende transferir recursos para os privados na resposta à pandemia”, declarou António Costa.
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