Em comunicado, a Companhia de Jesus sublinha que, “é com enorme dor e sofrimento”, que informa que, “após uma recolha de informação interna, foi possível apurar, com um grau de probabilidade elevada, a ocorrência de casos de abuso sexual de menores cometidos por oito jesuítas, todos já falecidos”.

Estas situações respeitam “a ocorrências desde 1950, sendo que o último caso conhecido remonta aos inícios dos anos 90”, acrescenta.

“A nossa primeira palavra não pode, pois, deixar de ser para com as vítimas, feridas na sua dignidade e marcadas física, emocional e espiritualmente por estes abusos. A estas pessoas, bem como às suas famílias, pedimos perdão pelos abusos sofridos e por não termos sido capazes, enquanto organização, de as proteger”, lê-se no comunicado hoje divulgado pelos jesuítas em Portugal, que admitem “que possam existir outras pessoas sofridas, cujas histórias” ainda não conhecem.

Os dados hoje revelados foram apurados no âmbito do Serviço de Escuta - criado em novembro de 2021 para acolher, escutar e ajudar possíveis vítimas de abuso sexual nas obras da Companhia de Jesus e onde chegaram duas denúncias - e também através de uma recolha e procura de informação interna, nomeadamente nos arquivos da Província Portuguesa da Companhia de Jesus (PPCJ).

“Do que foi possível apurar, a maioria destes abusos ocorreram em ambiente escolar, envolvendo alunos dos colégios da Companhia, tanto em contexto de grupo (sala de aula) como em contacto individual, sendo uns atos relatados como únicos, outros como pontuais e outros mais recorrentes”, informa o comunicado, adiantando que, “quanto às formas de abuso, caracterizam-se na generalidade por toques em zonas íntimas, embora haja registos de formas mais invasivas”.

As vítimas, de ambos os sexos, tinham idades entre os 9 e os 16 anos à data dos factos.

Segundo a Companhia de Jesus, a consulta interna permitiu também concluir que “a informação sobre estes casos é muito escassa e pouco objetiva, sendo, por isso, muito difícil, sem relatos concretos das vítimas, perceber com clareza em que circunstâncias se deram os abusos, se foram ou não denunciados, e quais as diligências que foram tomadas em relação aos abusadores e às vítimas”.

“Conclui-se ainda que a maior parte das situações não foram conhecidas à data da prática dos factos. Nos casos em que houve denúncias foram tomadas medidas tais como o afastamento do suspeito ou o seu isolamento em casa religiosa com proibição do exercício de atividade apostólica, bem como a escuta das vítimas”, assegura o comunicado, adiantando que a Companhia não tem ainda “informação de que tenham existido processos judiciais ou canónicos”.

Os jesuítas acrescentam não poder assegurar “que tenham sempre sido tomadas todas as medidas” hoje consideradas “adequadas, nomeadamente no que diz respeito ao cuidado e proteção das vítimas”.

A investigação interna da PPCJ insere-se no “esforço e empenho da Igreja Católica em geral, da Conferência Episcopal Portuguesa em particular, e também da Companhia de Jesus, para erradicar o abuso sexual presente em variadíssimas áreas da sociedade, de modo a que este possa ser prevenido, denunciado e, na medida em que seja possível, reparado”.

Após este levantamento interno, “que prosseguirá sempre que se justificar”, Companhia de Jesus “entregou a informação recolhida ao Grupo de Investigação Histórica (GIH) da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica, que está neste momento a fazer esse apuramento junto das dioceses e congregações religiosas”.

A criação daquela Comissão Independente foi decidida pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) no final de 2021, sendo coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e tendo iniciado os trabalhos no início deste ano. Desde então, já recebeu centenas denúncias, algumas das quais encaminhou para o Ministério Público.

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