As manifestações têm-se espalhado por várias cidades daquela república islâmica desde que foi revelada a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, na sexta-feira.
Os protestos chegaram mesmo à cidade sagrada de Qom, local de nascimento do líder supremo iraniano Ali Khamenei, que discursou hoje num evento em Teerão sem mencionar os protestos no país.
As manifestações decorrem nas ruas de 15 cidades iranianas localizadas no noroeste e no sul do país, assim como na capital.
Os manifestantes, em fúria, bloquearam estradas, incendiaram contentores de lixo e veículos da polícia, atiraram pedras contra as forças de segurança e gritaram slogans antigovernamentais, segundo a agência de notícias oficial Irna.
A polícia usou gás lacrimogéneo e fez detenções para dispersar a multidão, revelou também a agência.
Homens e mulheres, muitas da quais tiraram o lenço islâmico da cabeça, têm-se juntado em Teerão e outras grandes cidades do país, segundo a mesma fonte.
“Não ao lenço, não ao turbante, sim à liberdade e à igualdade”, gritaram os manifestantes num ajuntamento em Teerão, um slogan que foi repetido em manifestações solidárias no estrangeiro, incluindo em Nova Iorque e Istambul.
Um vídeo filmado na cidade de Shiraz, no sul do país, mostra as forças de segurança a abrir fogo contra os participantes nas manifestações que se prolongaram até às primeiras horas de hoje.
Mahsa Amini, de 22 anos, foi presa em 13 de setembro, por “vestir roupas inadequadas”, pela polícia de moralidade na região do Curdistão, unidade responsável por fazer cumprir o rígido código de vestuário na república islâmica.
Ativistas afirmam que a jovem foi morta com tiros na cabeça, uma alegação negada pelas autoridades, que garantem não ter maltratado a mulher e dizem que Amini morreu de ataque cardíaco.
A polícia iraniana divulgou imagens de videovigilância que mostram, supostamente, o momento em que Amini desmaiou, mas a família da vítima garante que a mulher não tinha qualquer historial de problemas cardíacos.
Amini, que era curda, foi sepultada no sábado na sua cidade natal de Saquez, no oeste do Irão, onde eclodiram os protestos que, entretanto, espalharam-se para Teerão e várias outras cidades do país.
O Irão tem vivido várias ondas de protestos ao longo dos últimos anos, normalmente reprimidas pela força, motivadas principalmente pela longa crise económica, agravada pelas sanções ocidentais devido ao seu programa nuclear.
Entretanto, numa aparente tentativa de controlar os protestos, foram bloqueados quase completamente a internet móvel e limitadas aplicações como o Whatsapp e o Instagram no país.
Segundo a plataforma NetBlocks, que monitoriza a conectividade dos utilizadores e a censura na internet, os principais servidores de rede móvel no Irão “cessaram quase completamente os seus serviços”.
Além disso, foi restringido o acesso ao Whatsapp e Instagram, uma das poucas aplicações ocidentais permitidas no Irão, que mantém o Facebook e o Twitter bloqueados.
“São as mais severas restrições de internet [no Irão] desde o massacre de novembro de 2019”, disse a NetBlocks.
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