O estudo, coordenado pela investigadora portuguesa Ana Rito, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, analisou dados entre 2015 e 2017 de 22 países da região europeia da Organização Mundial de Saúde, com amostras representativas da população infantil de cada país, integrando mais de 100 mil crianças entre os seis e os nove anos.

Segundo os resultados, as crianças que nunca foram amamentadas têm mais 22% de probabilidade de virem a ser obesas e as que foram amamentadas por um período curto têm mais 12% de probabilidade, comparando com as que foram amamentadas em exclusivo por pelo menos seis meses.

Portugal apresenta uma taxa de amamentação superior a 85%, mas apenas 21% das crianças foram amamentadas exclusivamente pelo menos seis meses. Ainda assim, em Portugal mais de metade das crianças analisadas foi amamentada durante pelo menos seis meses, ainda que nem todas em exclusividade.

As mais elevadas taxas de prevalência de obesidade foram observadas em Espanha, Malta e Itália, com maior prevalência de obesidade entre as crianças nunca amamentadas.

Também um mais elevado peso à nascença foi associado a maior risco de uma criança se tornar obesa.

O estudo conclui que, sendo a promoção da amamentação uma “janela de oportunidade” para a prevenção da obesidade, as políticas de cada país devem promover e apoiar medidas de promoção da amamentação.

Num comentário à agência Lusa, o coordenador do departamento europeu de prevenção e controlo de doenças não transmissíveis da OMS, João Breda, destaca que este estudo é “um dos maiores de sempre”.

“Evidencia de forma clara o efeito protetor do aleitamento materno contra a obesidade, sendo que crianças amamentadas ao peito podem chegar a ter um risco de obesidade 25% inferior ao de crianças que foram alimentadas com substitutos de leite materno”, referiu João Breda à Lusa.

O perito recorda que a OMS continua a recomendar o aleitamento materno exclusivo até pelo menos aos seis meses.

Mas, para o atingir, João Breda defende como essencial controlar o ‘marketing’ de substitutos de leite materno, “que continua a ser excessivo”, bem como que os hospitais e centros de saúde sejam promotores do aleitamento.

Considera também necessário que as licenças de maternidade e paternidade tenham em conta as necessidades das mães e das famílias que optam pelo aleitamento materno.

Cerca de 400 mil crianças com obesidade severa em 21 países europeus

Um estudo da Organização Mundial da Saúde para a Europa estima que 398 mil crianças entre os seis e os nove anos estariam com obesidade severa entre 2007 e 2013.

Portugal surge como o quinto país com maior prevalência de excesso de peso em crianças no período analisado, mas em relação à obesidade severa surge em sétimo lugar.

Segundo os dados do estudo, 3,4% das crianças analisadas em Portugal apresentam obesidade severa, 10,5% apresentam obesidade e 21% têm excesso de peso.

O valor mais baixo na obesidade severa regista-se na Suécia e na Moldávia, com 1% de prevalência, enquanto os valores mais elevados se encontram em Malta e Grécia, com uma prevalência de 5,5% e 4,8%.

Portugal e Itália foram alguns dos países onde se registou um decréscimo da obesidade severa ao longo do tempo, comparando 2007/2008 com 2012/2013.

Nos outros países, a diferença registada não foi significativa.

A prevalência da obesidade severa, mais grave, é superior nos rapazes do que nas raparigas e o estudo conclui também que é mais comum entre as crianças cujas mães têm níveis de escolaridade mais baixos.

O estudo da OMS Europa analisou dados de mais de 630 mil crianças de seis a nove anos de 21 países, investigando três períodos distintos: 2007/2008, 2009/2010 e 2012/2013.

(notícia atualizada às 17h44 - Acrescenta número de crianças com obesidade na Europa)