“A liderança madura e com princípios de Guterres tem sido crucial durante estes meses, mas os resultados até agora têm sido deprimentes”, disse à Lusa o diretor da “1 for 7 Billion”, William Pace.
"1 for 7 Billion" ("Um para sete mil milhões") é a organização que resultou de uma campanha que reuniu no ano passado cerca de 750 organizações e foi uma das vozes mais influentes na exigência de maior transparência na eleição para secretário-geral.
A campanha reúne centenas de diferentes organizações, como a Amnistia Internacional ou Federação das Associações de Comércio Internacional (FITA), e personalidades como o antigo secretário-geral Kofi Annan.
O seu diretor acredita que o impacto de forças exteriores à organização, como as ameaças da administração Trump, “são incalculáveis” e que depois dos meses iniciais “a negação do staff da ONU foi agora substituída por desespero”.
O especialista diz que “a ONU não pode ter sucesso sem a liderança da comunidade internacional” e que “os grandes poderes estão a falhar miseravelmente”.
“Por isso, precisamos que as democracias medias e pequenas assumam a liderança – têm os números e o poder para o fazer, se houver vontade política”, explica.
O diretor-executivo do Conselho Académico do Sistema das Nações Unidas, Alistair Edgar, concorda que Guterres “tem lidado com desafios já existentes e que se prolongam, bem como os novos problemas orçamentais e políticos causados pela administração Trump", mas que, “sob estas circunstâncias, tem estado muito bem como a voz e rosto principal da ONU”.
“Ele não tem hesitado em falar na necessidade de lidar com estas crises, e focar-se na proteção de pessoas em situações de conflito. Nesse sentido, tem sido um secretário-geral mais visível do que o seu antecessor, Ban Ki-moon”, diz Alistair Edgar, cuja organização reúne instituições de educação e de investigação, académicos e profissionais ligados à ONU, procurando facilitar a relação com a organização.
“Claro que são personalidades diferentes, com experiências profissionais diferentes, e Guterres tem o beneficio de ter extensa experiência no sistema da ONU e um domínio muito maior do inglês, o que lhe permite adotar um papel publico muito mais forte”, acrescenta.
William Pace diz que António Guterres começou muito bem e “que o período de transição desde a confirmação pela Assembleia Geral até assumir o cargo foi o melhor de que há memória.”
“As nomeações que fez no primeiro mês - como a sua vice e a sua chefe de gabinete - e as reuniões com as ONG foram muito elogiadas. Comparando com a desastrosa transição da presidência dos EUA para Trump, foi muito tranquilizador”, explica.
Edgar diz que esperava mais mudanças nos cargos seniores, nomeadamente nos países que ocupam sempre as mesmas posições de relevo, e que “isso não aconteceu, talvez devido a negociação que aconteceu durante as ultimas fases do processo de seleção e aprovação.”
O especialista considera ainda que “o trabalho de Guterres com as ONG tem sido bom”, cumprindo a promessa de campanha de incluir as organizações da sociedade civil no trabalho da organização.
“Pela minha experiência na ACUNS, já fizemos dois pedidos ao escritório do secretário-geral e ambos foram respondidos substantivamente, de forma positiva e atempadamente”, lembra.
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