Se as conversações se concretizarem, deverão centrar-se no estabelecimento de um cessar-fogo “estável e fiável, monitorizado por observadores nacionais e internacionais, disse Volker Perthes, citado pela AP. No entanto, o responsável da ONU alertou para o facto de ainda existirem desafios na realização das negociações.
Os grupos humanitários têm tentado restabelecer o fluxo de ajuda no Sudão, onde quase um terço da população de 46 milhões de habitantes dependia da ajuda internacional mesmo antes da explosão de violência.
Segundo a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), Cindy McCain, o número de pessoas a precisar de assistência “aumentará significativamente à medida que os combates continuarem” no país africano. “Para melhor proteger os nossos trabalhadores humanitários e o povo do Sudão, os combates têm de parar”, vincou.
Caso avancem, as conversações diretas entre os dois lados seriam o primeiro grande sinal de progresso desde o início dos combates, em 15 de abril, entre o exército e o grupo paramilitar rival, as Forças de Apoio Rápido (FAR). Durante grande parte do conflito, o chefe do exército, general Abdel Fattah Burhan, e o comandante das FAR, general Mohammed Hamdan Dagalo, não mostraram sinais de desistir dos confrontos.
Entretanto, o Presidente do Quénia, William Ruto, reuniu-se hoje em Nairobi com altos funcionários da ONU e com o presidente da Comissão da União Africana (UA), entre outros, para discutir formas de levar ajuda humanitária ao Sudão.
“A crise humanitária no Sudão atingiu níveis catastróficos. Os protagonistas recusaram-se a atender aos apelos da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, um bloco de oito países da África Oriental), da UA e da comunidade internacional para um cessar-fogo”, afirmou Ruto em comunicado, salientando que “a água, os alimentos e os medicamentos são escassos” naquele país.
William Ruto alertou para o aumento do número de pessoas deslocadas devido ao conflito armado, considerando ser “imperativo” encontrar formas de levar apoio humanitário aos civis sudaneses, “com ou sem cessar-fogo”.
O agravamento da situação social no Sudão mereceu também a atenção do secretário-geral da ONU, António Guterres, que no domingo sublinhou que “a escala e a rapidez do que está a acontecer não têm precedentes no Sudão”, manifestando a sua preocupação com o impacto imediato e no longo prazo para toda aquela região africana.
Os combates entre as FAR e o exército sudanês eclodiram em 15 de abril, face a tensões sobre a reforma do exército e a integração dos paramilitares nas forças regulares, no âmbito de um processo político que visa repor o país na via democrática, após o golpe de Estado de 2021.
Pelo menos 528 civis foram mortos e mais de 4.500 ficaram feridos desde o início dos combates, segundo o Ministério da Saúde do Sudão.
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