Com as perspetivas humanitárias globais a permanecerem “sombrias”, a ONU lançou hoje o seu apelo global para 2024, pedindo 46,4 mil milhões de dólares (cerca de 43 mil milhões de euros) para ajudar 180,5 milhões de pessoas no mundo através de “assistência e proteção que salvam vidas”.

Para o corrente ano, as Nações Unidas haviam pedido 512,9 milhões de dólares (476 milhões de euros) para Moçambique — o único país lusófono visado no apelo -, mas esse requerimento foi financiado em apenas 36%, segundo um relatório hoje divulgado.

Em 2024, quase 300 milhões de pessoas em todo o mundo necessitarão de assistência e proteção humanitária, devido a conflitos, emergências climáticas e outros fatores, sendo que 74,1 milhões dessas pessoas estão na África Oriental e Austral.

De acordo com as Nações Unidas, a crise no Sudão é responsável por quase 40% desse total, uma vez que as necessidades internas do país, e de toda a região, aumentaram desde que o conflito eclodiu em agosto de 2023.

“O Sudão está a registar um aumento vertiginoso das necessidades, de 15,8 milhões de pessoas em 2023 para uns impressionantes 30 milhões de pessoas em 2024. Na África Ocidental e Central, 65,1 milhões de pessoas estão em necessidade, e as crises no Burkina Faso e no Níger expandiram-se e intensificaram-se, impulsionando o aumento das necessidades em comparação com 2023”, explicou a ONU no seu relatório “Visão Global Humanitária 2024”.

Nesse sentido, as crises no Sudão e no Sudão do Sul levaram a dois dos maiores apelos regionais das Nações Unidas para o próximo ano: 1,3 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) e 1,5 mil milhões de dólares (1,39 mil milhões de euros), respetivamente.

Já o país africano alvo do maior apelo da ONU foi a Etiópia, com 2,9 mil milhões de dólares (2,69 mil milhões de euros).

Os conflitos, desastres climáticos e desastres naturais – como os que afetaram fortemente Moçambique – e fatores económicos são os três principais impulsionadores dessas necessidades que, combinados, fizeram a insegurança alimentar aguda tornar-se uma realidade para 258 milhões de pessoas em 58 países, segundo a ONU.

Sem esforços internacionais concertados, as perspetivas de segurança alimentar deteriorar-se-ão ainda mais em 2024, com o Burkina Faso, o Mali, o Território Palestiniano Ocupado, o Sudão do Sul e o Sudão no mais alto nível de preocupação para a organização internacional.

As insuficiências de financiamento em 2023 levaram a que organizações humanitárias alcançassem menos de dois terços das pessoas que pretendiam ajudar.

“As consequências são trágicas: no Afeganistão, 10 milhões de pessoas perderam o acesso à assistência alimentar entre maio e novembro. Em Myanmar, mais de meio milhão de pessoas ficaram em condições de vida inadequadas. No Iémen, mais de 80% das pessoas visadas para assistência não dispõem de água e saneamento adequados. E na Nigéria, apenas 2% das mulheres que esperavam serviços de saúde sexual e reprodutiva e prevenção da violência de género os receberam”, segundo as Nações Unidas.

“Os trabalhadores humanitários estão a salvar vidas, a combater a fome, a proteger as crianças, a combater epidemias e a fornecer abrigo e saneamento em muitos dos contextos mais desumanos do mundo. Mas o apoio necessário da comunidade internacional não está a acompanhar as necessidades”, alertou o subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência da ONU, Martin Griffiths.

Se uma maior quantidade de ajuda não for fornecida em 2024, “as pessoas pagarão por isso com as suas vidas”, acrescentou.