“Esta decisão, encerrando um ‘irritante’, permite que a relação entre Portugal e Angola passe para o nível mais alto possível do relacionamento”, afirmou à Lusa Augusto Santos Silva.

O Tribunal da Relação de Lisboa decidiu hoje que o processo do ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, arguido na Operação Fizz, deve ser enviado para Angola.

“Tomo muito boa nota da decisão do tribunal, porque tem um efeito muito positivo na política externa”, comentou Santos Silva, que começou por sublinhar que o Governo português “respeita inteiramente a decisão do tribunal”, referindo que se “verifica mais uma vez que as questões judiciais devem ser tratadas em sede judicial”.

Segundo o governante, “o único obstáculo que existia no relacionamento bilateral ao mais alto nível deixou de existir”.

Questionado se esta decisão permitirá agora que o primeiro-ministro, António Costa, visite Angola – algo que já esteve previsto, mas ainda não se concretizou – Santos Silva respondeu que “esse é um trabalho muito prioritário para a diplomacia portuguesa”.

O chefe da diplomacia portuguesa afirmou que Lisboa e Luanda consideravam que, após a sua própria viagem a Angola em 2017 e da deslocação do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, como convidado para a cerimónia de posse do novo Presidente angolano, João Lourenço, “agora o que faltava fazer era uma de duas coisas ou desejavelmente as duas coisas: uma visita do primeiro-ministro português a Luanda e/ou uma visita do Presidente da República de Angola a Portugal”.

“Na diplomacia temos o encargo de preparar com o tempo e o profissionalismo necessário esses desenvolvimentos e é isso que estamos a fazer”, adiantou.

Santos Silva afirmou que as relações entre os dois países “sempre foram boas, agora podem ser ótimas”, recordando que Lisboa e Luanda têm “uma proximidade muito grande do ponto de vista político-diplomático, económico e social”.

O governante afastou ainda a ideia de que o relacionamento entre Portugal e Angola tenha estado interrompido.

“O trabalho será continuado, não se trata de retomar. Há uma ideia errada que às vezes surge em Portugal, segundo a qual as relações estariam suspensas, congeladas, enfraquecidas, interrompidas. Nada disso é verdade. O que acontecia era que existia o que chamávamos um ‘irritante’, um pequeno obstáculo, que impedia que as relações assumissem também a forma de contactos ao mais alto nível, e neste momento, com esta decisão esse obstáculo desaparece”, comentou.

Questionado sobre se acredita que o Governo angolano poderá agora acelerar a colocação em Lisboa de um novo embaixador, após a exoneração, em abril, do diplomata Marcos Barrica, Santos Silva afirmou não poder pronunciar-se “sobre decisões que são soberanas de Estados”.

“Eu não admitiria que um colega meu estrangeiro se pronunciasse sobre o ‘timing’ que temos de decisões do Estado português sobre a sua representação diplomática”, disse.

O governante deixou a garantia de que “quem quer que seja e quando quer que venha, será muito bem recebido em Portugal, porque representará um país amigo e irmão”.

As autoridades portuguesas já deram o seu ‘agrément’ à indicação do sucessor de Marcos Barrica na embaixada de Angola em Lisboa, mas, segundo o Expresso, Angola não tencionava enviar já um diplomata, devido à tensão nas relações causada pelo processo 'Operação Fizz’, que envolve o ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente.

Augusto Santos Silva disse que ainda não falou com nenhum membro do Governo angolano sobre esta decisão judicial, hoje conhecida.

[Notícia atualizada às 19h12]