“Estamos numa situação de rutura e com iminência também de se poderem fechar serviços por falta de recursos humanos se nada for feito, se não houver rapidamente uma solução”, afirmou Carlos Cortes à agência Lusa, destacando que a situação na região Centro é de “imensa preocupação, porque, efetivamente, está em rutura, com uma dificuldade permanente em se ter escalas completas”.
Na terça-feira, a SRCOM teve reuniões com responsáveis dos serviços de ginecologia/obstetrícia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e das maternidades Bissaya Barreto e Daniel de Matos (Coimbra), assim como dos hospitais de Castelo Branco, Covilhã e Guarda.
Hoje, estão previstos outros encontros, incluindo com responsáveis dos serviços de ginecologia/obstetrícia dos hospitais de Aveiro, Figueira da Foz, Leiria e Viseu.
A falta de médicos em vários hospitais do país tem levado nos últimos dias ao encerramento de urgências de obstetrícia ou a pedidos aos centros de orientação de doentes urgentes de reencaminhamento de utentes para outros hospitais.
Na segunda-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que vai ser posto em prática “um plano de contingência” entre junho e setembro para procurar resolver a falta de médicos nas urgências hospitalares do país.
O presidente da SRCOM declarou que “as afirmações da ministra sobre o facto de ser uma situação pontual e recorrente na mesma altura do ano não correspondem à realidade, porque as dificuldades que se fazem sentir nas urgências – tem tido mais impacto público nas urgências de obstetrícia – é um problema permanente que se tem agudizado nestes últimos anos, precisamente por falta de recursos”.
Segundo Carlos Cortes, os diretores de serviço presentes na reunião “expressaram uma dificuldade permanente em ter escalas completas”.
O responsável da SRCOM exemplificou que nos hospitais da Guarda e da Covilhã, “com situação muito semelhante, têm seis, sete obstetras”, pelo que é “completamente impossível fazer uma escala adequada todos os meses”, referindo que aquelas unidades recorrem, por isso, a prestadores de serviços, que “dão as disponibilidades que querem”.
No caso de Castelo Branco, o hospital “tem um médico de ginecologia/obstetrícia no seu quadro, que tem 65 anos”, apontou.
Já em Coimbra, Carlos Cortes esclareceu que “tem de haver 10 médicos de urgência”, repartidos por três polos, “quatro em cada maternidade e dois no hospital central”, considerando que “se houvesse uma única maternidade esse número poderia ser reduzido para seis”.
“Aquilo que nos foi dito é que, neste momento, não há falhas da escala”, mas “nas próximas semanas há muitos turnos que estão incompletos”, o que “tem acontecido também no passado”, observou.
Questionado sobre o eventual perigo que podem correr grávidas e recém-nascidos — o Centro Hospitalar do Oeste abriu um inquérito participando à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde o caso de uma grávida que perdeu o bebé a semana passada, alegadamente por falta de obstetras no hospital das Caldas da Rainha -, Carlos Cortes sustentou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “tem de assegurar sempre soluções” e não se pode “olhar para os hospitais como instituições únicas que não estão interligadas entre si, têm de estar interligadas”.
Salientando que a situação atual tem de ser resolvida, Carlos Cortes referiu que “aquilo que se pede à ministra da Saúde, [que] infelizmente tem mostrado até aqui uma grande inabilidade em resolver estas dificuldades que atravessa o SNS”, é um “plano de fundo, para conseguir dar resposta e para conseguir manter a segurança, tanto das grávidas como dos recém-nascidos”.
“Não tenho dúvida nenhuma de que se não houver uma resposta rápida e profunda para reforçar o SNS, podem começar a colocar-se em cima da mesa questões de falta de segurança”, acrescentou.
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