O efeito das alterações climáticas está a afetar o continente mais isolado do planeta. A biodiversidade na Antártida vive sobre ameaça e agora há dados concretos: um estudo publicado no final de 2022 na PLOS Biology, uma reputada revista científica, dá conta de que, com as atuais medidas de conservação, 65% das espécies terrestres e aves marinhas a habitar naquela região do pólo sul vão ter reduções extremas nas suas populações; e algumas podem até desaparecer.

A investigação baliza as projeções, sendo que a percentagem acima referida é a mais provável. Num cenário mais otimista, apenas 37% da biodiversidade seria afetada, no pior dos cenários 97% das espécies praticamente que desapareciam. Nestas estimativas, à cabeça, como mais vulnerável surge aquela que é a espécie mais associada à Antártida: o pinguim.

Mais especificamente, o pinguim-imperador, que habita de forma permanente naquela região, assim como nas pequenas ilhas e sub-regiões que rodeiam a Antártida, e que pode ficar em risco de extinção até ao final do século

No entanto, o estudo sublinha que não chegámos, ainda, a um ponto de não retorno e que há formas de, através da ação global e da aplicação de várias medida, gerir estas ameaças e poupar até 84% da biodiversidade vulnerável da Antártida.

"A Antártida não está realmente a contribuir para as alterações climáticas, não há um grande número de pessoas a viver lá, por isso, a maior ameaça ao continente vem de fora do continente", disse Jasmine Lee, principal autora do estudo, à CNN, reforçando que é necessária "uma ação global contra as alterações climáticas, bem como de alguns esforços de conservação locais e regionais, para dar às espécies da Antártida a melhor hipótese de sobrevivência no futuro."

Entre as soluções propostas pela investigação está um pacote de medidas para os próximos 83 anos, que custariam 23 milhões de dólares por ano (cerca de 21,5 milhões de euros), que incluem minimizar a atividade humana, o uso transportes e a construção de novas infraestruturas, assim como o investimento na proteção das espécies autóctones, e controlo de espécies e de doenças na região.

O estudo sublinha várias vezes a importância de cumprir as metas mais ambiciosas do Acordo de Paris de 2015, nomeadamente a redução do aumento da temperatura, como parte fundamental para combater o impacto das alterações climáticas na Antártida.

Também no final do último ano, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico alertou para os "impactos graves e irreversíveis" no ambiente se for ultrapassado o limite do aquecimento global de 1,5ºC, fixado pela comunidade internacional em 2015, através da publicação de um relatório que passou em revista vários estudos científicos e que destaca como "particularmente preocupante" o "provável colapso das camadas de gelo da Antártida Ocidental e da Gronelândia e o degelo abrupto do 'permafrost' [terreno permanentemente gelado] no Ártico", que podem levar à "subida adicional" do nível do mar e à libertação de mais gases com efeito de estufa para a atmosfera, agravando o aquecimento do planeta.