“Está agora confirmado que os anos 2015, 2016 e 2017 (...) são os três anos mais quentes alguma vez registados”, anunciou a Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência especializada da ONU.
Segundo a OMM, estes trinta e seis meses “inscrevem-se claramente na tendência de aquecimento global no longo prazo, causado pelo aumento da concentração atmosférica dos gases com efeito de estufa”.
Todas as análises mostram também que os cinco anos mais quentes de que há registo são posteriores a 2010, especificou, por outro lado, a NASA, a agência espacial norte-americana.
Sob o efeito da corrente equatorial El Nino, que foi particularmente intensa, 2016 lidera com mais 1,2 graus centígrados (ºC) do que a média da época pré-industrial. A ONU utiliza o intervalo temporal 1880-1900 como referência para as condições prevalecentes neste período.
Já o ano 2017 fica com o recorde do ano mais quente desde que há registo sem o El Nino, que reaparece com um intervalo de tempo entre os três e os sete anos, pressionando em alta a média das temperaturas e alterando os padrões de precipitação mundiais.
“Estes novos dados de temperatura mostram que o mundo está a aquecer rapidamente”, concluiu Dave Reay, professor da Universidade de Edimburgo, em reação ao documento.
“Apesar das temperaturas mais frias que a média em algumas partes do mundo, o termómetro continua a subir rapidamente no conjunto do planeta a um ritmo sem precedentes nos últimos 40 anos”, destacou o diretor do Instituto Goddard para os Estudos Espaciais da NASA, Gavin Schmidt.
A OMM informou que a temperatura média na superfície do globo em 2015 e 2017 ultrapassou em 1,1ºC a da era pré-industrial.
E a temperatura média em 2017 foi de cerca de 0,46ºC superior à media calculada para o intervalo entre 1981 e 2010.
“Dezassete dos 18 anos mais quentes pertencem ao século XXI e o ritmo de aquecimento constatado nos últimos três anos é excecional. Este último foi particularmente acentuado no Ártico”, com a fusão acelerada do gelo, declarou, com tom alarmista, o secretário-geral da OMM, o finlandês Petteri Taalas.
Isto “vai ter repercussões duradouras e de grande amplitude no nível dos oceanos e na meteorologia de outras regiões do mundo”, acrescentou.
“A temperatura recorde deveria atrair a atenção dos dirigentes mundiais sobre a amplitude e a urgência dos riscos que as alterações climáticas representam para as populações, ricas e pobres, no mundo”, estimou Bob Ward, do Instituto de Investigação Grantham sobre Alterações Climáticas, em Londres.
Donald Trump anunciou a retirada dos EUA do Acordo de Paris, assinado no final de 2015, no qual a comunidade internacional se comprometeu a conter o aquecimento global “bem abaixo” dos 2ºC.
Mas “com a tendência atual do aquecimento global, já se pode prever que até 2060 ou 2070, pode-se atingir este valor”, declarou à comunicação social, em Genebra, o coordenador científico da OMM, Omar Baddour.
E “se o aquecimento global continuar a ser acelerado pelas emissões de gases com efeito de estufa, este patamar pode ser alcançado bem antes daquelas datas”, preveniu.
A subida das temperaturas representa apenas uma parte das alterações climáticas, notou a ONU, sublinhando que o calor de 2017 foi acompanhado de condições meteorológicas extremas um pouco por todo o mundo, que provocaram “uma redução e inclusive uma regressão económica”, observou Taalas.
Para este levantamento estatístico, a ONU utilizou informação da agência norte-americana opara os Oceanos e a Atmosfera (NOAA, na sigla em Inglês), do Centro Hadley do serviço meteorológico britânico, do Centro Europeu para as Previsões Meteorológicas de Curto Prazo (CEPMMT) e do serviço meteorológico japonês.
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