"Acredito que o fracasso em conter a propagação do vírus - pelo facto de não haver coordenação internacional suficiente - deve fazer com que os países percebam que precisam de mudar de rumo", disse o secretário-geral da ONU à agência France Presse (AFP).

Ao analisar as respostas internacionais ao coronavírus, Guterres defendeu que a pandemia deve aumentar o foco dos governos na redução das emissões de carbono e pode ser aproveitada como um "trampolim" para lançar políticas destinadas a afastar as sociedades dos combustíveis fósseis. 

Salientou ainda que os países devem “agir em conjunto quanto à ameaça climática, que é muito mais grave do que a pandemia em si - é uma ameaça existencial para o nosso planeta e para nossas vidas".

A pandemia prejudicou ainda mais as esperanças de que as nações que se recusam a anunciar planos de ação climática o fizessem, já que os principais eventos ambientais foram adiados e as nações concentraram-se em si mesmas. 

“Ou estamos unidos ou estamos perdidos", avisou o secretário-geral da ONU, apelando, em particular, à adoção de “verdadeiras medidas de transformação nos domínios da energia, transportes, agricultura, indústria, no nosso modo de vida, sem as quais estamos perdidos”.

Os últimos cinco anos foram os mais quentes já registados e as consequências são visíveis, com as camadas de gelo a derreter a uma velocidade que remete para os piores cenários dos cientistas, prevendo subidas devastadoras do nível do mar.  Além disso, as concentrações de CO2 na atmosfera estão nos níveis mais altos em cerca de três milhões de anos, devido à queima de combustíveis fósseis.

Quanto à temperatura, o ano de 2019 foi o segundo mais quente desde 1880, altura em que começaram os registos modernos de temperaturas. Os especialistas anteveem que a temperatura média global supere um novo recorde no próximo período de cinco anos (2020-2024).

"As expectativas que temos em relação aos próximos cinco anos sobre tempestades, secas e outros impactos dramáticos nas condições de vida de muitas pessoas em todo o mundo são absolutamente terríveis", disse Guterres. "Está na hora de acordar", acrescentou.

As Nações Unidas afirmam que ainda é possível atingir uma meta de 1,5°C no controlo do aumento da temperatura, mas para alcançar esse objetivo as emissões globais têm de reduzir anualmente em 7,6% durante esta década. 

Apesar de os períodos de confinamento aplicados durante a pandemia terem reduzido as emissões globais em até 8% a nível mundial, os cientistas alertam que, sem uma mudança estrutural no funcionamento dos países (principalmente nas áreas de alimentação e energia), essa queda será insignificante.

A pandemia demonstrou a capacidade da sociedade de se adaptar à transformação, referiu Guterres. “Não quero voltar a um mundo onde a biodiversidade está a ser questionada, a um mundo onde os combustíveis fósseis recebem mais subsídios do que as energias renováveis, ou a um mundo em que vemos as desigualdades tornarem sociedades cada vez menos coesas e criando instabilidade, raiva, frustração", acrescentou.

"Acho que precisamos de um mundo diferente. Um normal diferente e temos a oportunidade de o fazer".

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Este artigo pode ser lido na íntegra no site da AFP.

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