A eurodeputada, ressalvando que o Parlamento Europeu “na área da Cultura, não tem influência" nas políticas, e só pode fazer recomendações aos Estados-membros, afirmou, no entanto, que, caso o Governo português estipulasse um por cento do Orçamento do Estado para a Cultura, só se poderia regozijar.

“Só nos podíamos congratular”, garantiu Kammerevert, referindo, todavia, que há práticas na área da Cultura que podem ser levadas a cabo, sem um assinalável esforço financeiro, como a promoção das idas das escolas aos museus, ao teatro e ao cinema, ou a visita de criadores aos estabelecimentos escolares.

A parlamentar europeia afirmou que o orçamento da Comissão Europeia para a Cultura, 1,7 mil milhões de euros, para sete anos, e com 28 Estados-membros, faz com que, “em última análise”, a União Europeia só possa "trazer algum dinheiro inicial para projetos”.

“Nesse domínio [da Cultura], tentaremos reforçar os meios [financeiros] no próximo período de programação. Tentaremos mobilizar mais dinheiro para a área da Cultura. Apelamos sempre aos Estados-membros pelo que são responsáveis, e que invistam na Cultura”, disse a alemã Petra Kammerevert, que falava aos jornalistas no edifício Jean Monet, em Lisboa.

Kammerevert liderou uma delegação do Parlamento Europeu, em visita a Portugal desde quarta-feira, e disse hoje que gostou do que viu, como o Bairro da Torre, em Cascais, que apontou como um exemplo de integração social, e o Museu Gulbenkian, do qual elogiou o esforço de Calouste Sarkis Gulbenkian, como colecionador.

Petra Kammerevert fez hoje um balanço da visita que passou por Lisboa – Assembleia da República, Câmara Municipal, Fundação e Museu Gulbenkian e Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, da Fundação EDP -, Cascais e Sintra, mas a reunião prevista com o ministro da Cultura, hoje, não aconteceu.

Questionada sobre a razão do cancelamento do encontro com Luís Filipe de Castro Mendes, que esteve no parlamento, a eurodeputada alemã disse que não a podia dizer, e só “podia imaginar que teve problemas de agenda”, referindo que “isso acontece por vezes com os ministros”.

A eurodeputada elogiou Portugal, os esforços de recuperação orçamental feitos pelo Governo português, lembrando que se vive ainda um tempo de contingência, “para evitar dívidas e 'deficits'”, e que há prioridades que são definidas pelo executivo.

Esta questão foi aliás reforçada, quando questionada sobre os apoios estatais às bolsas de investigação científica, depois de elogiar os apoios neste domínio dados pela Fundação Gulbenkian.

“Não nos podemos envolver na forma como Portugal lida com o seu desenvolvimento”, disse.

O Programa Erasmus Mais esteve na agenda dos eurodeputados, que encontraram consenso com os parlamentares portugueses, com quem se reuniram, no sentido de reforçar os meios financeiros para este programa europeu de permuta de universitários.

Petra Kammerevert disse que há que “simplificar” as candidaturas e “facilitar o acesso aos alunos mais pobres”.

Nesta área, apontou como “interessante” o projeto de um balcão único, que existe em Lisboa, para alunos do Erasmus.

Aliás, a parlamentar na reunião tinha já ouvido, de uma representante da Câmara de Lisboa, o “empenho pessoal” do edil Fernando Medina, em receber numa sessão de boas vindas os universitários, a quem se entrega um saco “com ‘souvenirs’ e ‘t-shirts’”.

Elogiando os museus da Eletricidade e o de Arte, Arquitetura e Tecnologia, a eurodeputada referiu também o privilégio que teve em visitar o Palácio da Pena, em Sintra, onde passou por “longas filas”, e apelou para se “encontrar uma solução inteligente”.

O turismo foi aliás referido várias vezes, assim como o rejuvenescimento das cidades, tendo apontado Lisboa como um exemplo, pelo “equilíbrio entre o património edificado, a modernidade e a inovação”.

Apontando o “afluxo gigantesco do turismo” como “bom”, referiu que se tem de saber lidar com “algo mais negativo”, nomeadamente a saída das populações dos seus locais de vivência.

Mas disse também que “o processo de gentrificação é comum a outras cidades europeias”, até à sua, e que se tem de procurar “um equilíbrio adequado”, pois “há quem queira deixar os sítios onde vive, por causa do turismo”, e apelou “a uma reflexão”, em termos europeus, e a um “trabalho em rede”.

Sobre o Ano Europeu do Património, que se está a celebrar, Petra Kammerevert afirmou-se muito satisfeita por a programação estar a ser coordenada pelo administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, Guilherme d’Oliveira Martins.

“Está em muito boas mãos”, disse a eurodeputada, que reconheceu não ter tido tempo para estar a par de tudo o que está previsto, defendendo a existência de programas transfronteiriços.

Na área do património, a eurodeputada afirmou que se realizará, em novembro próximo, em Bruxelas, uma reunião com a participação de deputados dos parlamentos nacionais, de forma “a encontrar o que une os europeus”. Ou "como o património cultural pode ser utilizado para garantir uma maior coesão europeia”.