Em carta apostólica (“motu proprio”), datada de quinta-feira última, e divulgada hoje pela Santa Sé, o papa anuncia que "a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei foi abolida".

O papa afirma que as competências da comissão "são totalmente atribuídas à Congregação para a Doutrina da Fé", guardiã do dogma da Igreja Católica, herdeira do Santo Ofício.

A carta apostólica também estabelece que será estabelecida, dentro da CDF, uma "secção" para continuar "o trabalho de vigilância, promoção e supervisão" até então conduzido pela Comissão Ecclesia Dei.

A Pontifícia Comissão Ecclesia Dei foi estabelecida pelo papa João Paulo II em 1988, com o objetivo de iniciar um diálogo com os “lefebvristas” para um dia alcançar sua plena reintegração na Igreja Católica.

Fundada em 1970 por Marcel Lefebvre (1905-1991), a SSPX distanciou-se, rapidamente, da Santa Sé, recusando-se a "seguir a Roma neo-modernista e de tendência neo-protestante" surgida do Concílio Vaticano II (1962 -1965).

Os membros da SSPX recusam as numerosas reformas litúrgicas adotadas no Concílio Vaticano II, designadamente o abandono do uso do latim durante a missa, em favor das línguas nacionais, ou a celebração da missa frente aos fiéis e não voltada para o altar-mor de costas para a assembleia de fiéis (Rito Romano Tradicional).

A rutura foi consumada quando o arcebispo Lefebvre consagrou, em junho de 1988, quatro bispos, sem a autorização de João Paulo II, um gesto alvo de excomunhão.

O papa Francisco justificou a sua decisão pelo facto de que o trabalho da Comissão Ecclesia Dei é, atualmente, essencialmente "de natureza doutrinária" e que as comunidades celebrando missa na forma extraordinária do Rito Romano Tradicional alcançaram agora alguma estabilidade.

As conversações com vista à reintegração gradual dos tradicionalistas na Igreja Católica tinham começado com João Paulo II e prosseguida pelo papa Bento XVI. Em 2009, Bento XVI levantou a excomunhão dos bispos que tinham sido consagrados sem um mandato pontifício.

Segundo a agência noticiosa francesa, AFP, os “lefebvristas” são cerca de 600 padres, dos quais mais de um quarto na França, de um total de 400.000 sacerdotes no mundo.