“A agressividade e a violência verbal a que o país ontem assistiu por parte de um antigo primeiro-ministro e antigo Presidente da República revelam que o professor Cavaco Silva perdeu o sentido de Estado que se exige”, afirmou João Torres em declarações aos jornalistas à margem da Gala dos 50 anos do PS/Braga, no Theatro Circo.
E prosseguiu: “Essa agressividade e violência verbal que o professor Cavaco Silva utilizou revelam também que está, de alguma forma, inconformado com o facto de ter uma grande impopularidade no nosso país.”
Para o dirigente socialista, o mandato presidencial do social-democrata “é um mandato de que nenhum português tem particular boa memória e parece que o professor Cavaco Silva está mal resolvido com o seu passado”.
“Só isso é que pode justificar como ele se dirigiu, em particular, ao PS. O PS não aceita lições de moral por parte do professor Cavaco Silva, como não aceita lições de moral por parte do PSD ou de outra formação política”, advertiu João Torres.
Mantendo o discurso crítico, o secretário-geral adjunto considerou irónico que seja uma personalidade política com uma década de funções como primeiro-ministro e mais dez anos como Presidente da República “a tentar assumir-se como o líder da oposição” no país.
“Julgo que hoje não há nenhum português que veja no PSD a capacidade de iniciativa e de leitura política à altura de construir uma alternativa para o nosso país e parece que só mesmo o professor Cavaco Silva reconhece ao doutor Luís Montenegro qualidades para chefiar um Governo”, disse João Torres.
No seu entendimento, a tentativa de Cavaco Silva de ser o “líder da oposição” valida o que o PS tem dito sobre o atual líder dos sociais-democratas: “Não está à altura de liderar a oposição. O PSD transformou-se num vazio de ideias.”
Para os socialistas, o PSD usa “uma linguagem que é de uma agressividade e de uma violência que é absolutamente lamentável e muitas vezes inaceitável”.
“Até o próprio professor Cavaco Silva utilizou essa linguagem, que acho que vai para lá dos limites aceitáveis em democracia”, acrescentou.
No sábado, Aníbal Cavaco Silva acusou o Governo de ser especialista em “mentira e propaganda”, num discurso muito crítico do executivo no 3.º Encontro Nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), em Lisboa.
“Há que resgatar o debate político porque ele é importante em democracia. Segundo o que vemos, ouvimos e lemos, existem duas áreas em que o Governo socialista é especialista: na mentira, e na propaganda e truques”, acusou.
Considerando que o primeiro-ministro, António Costa, “perdeu a sua autoridade”, o antigo chefe de Estado afirmou que por vezes os chefes de Governo “decidem apresentar a sua demissão” devido a “um rebate de consciência”.
“Em princípio, a atual legislatura termina em 2026. Mas às vezes os primeiros-ministros, em resultado de uma reflexão sobre a situação do país ou de um rebate de consciência, decidem apresentar a sua demissão e têm lugar eleições antecipadas – foi isso que aconteceu em março de 2011”, afirmou.
Cavaco Silva defendeu que “o PSD é inequivocamente a única, verdadeira alternativa credível ao poder socialista” e considerou que o líder do PSD, Luís Montenegro, está “tão ou mais bem preparado” do que ele próprio quando foi chefe de Governo.
O antigo Presidente da República (entre 2006 e 2016) considerou que o PSD “não deve ir a reboque de moções de censura apresentadas por outros partidos mais preocupados em ser notícia na comunicação social” – numa referência ao Chega e à Iniciativa Liberal, que já apresentaram moções de censura ao executivo socialista na atual sessão legislativa, ambas rejeitadas no parlamento.
Em 26 de novembro de 2015, António Costa foi empossado primeiro-ministro pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, passando a liderar o XXI Governo Constitucional.
Apenas 27 dias depois da anterior tomada de posse – do executivo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho, que foi derrubado em 10 de novembro de 2015 no parlamento -, foi empossado o executivo minoritário do PS.
Este Governo contou com uma solução inédita de suporte parlamentar de PCP, BE e PEV, entre novembro de 2015 e outubro de 2021, denominada ‘geringonça’.
(Artigo atualizado às 16h47)
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