Em 25 de agosto de 1944, a maior parte da 2.ª Divisão Blindada comandada pelo general Leclerc entrou na capital após mais de 1.500 dias de ocupação alemã e uma semana de greves, barricadas e batalhas de rua lideradas pela resistência.

Oitenta anos depois, um "desfile militar e popular" irá percorrer um dos itinerários seguidos pela 2.ª Divisão no sul da capital francesa, antes da cerimónia oficial que acolherá também a chegada da tocha dos Jogos Paralímpicos Paris2024.

"É maravilhoso que 80 anos depois ainda haja tanto entusiasmo (…) É importante conhecer tudo, todo o seu sacrifício", disse à AFP Bénédicte de Francqueville, 88 anos, e última filha viva do general Leclerc.

A Presidência indicou que Macron irá recordar o "aspeto universal desta operação francesa", desde a resistência interna, à 2.ª Divisão Blindada e o apoio dos Estados Unidos, o papel do cônsul sueco e do governador militar alemão.

A comemoração é celebrada este ano num contexto de ascensão da extrema-direita na União Europeia e na França, enquanto a Ucrânia enfrenta o seu terceiro ano de combates com a Rússia.

Estas cerimónias são necessárias porque têm "ligações com a atualidade que permitem-nos mostrar que não há fatalidade, que resistir, às vezes é muito difícil, mas no final vencemos", disse Claire Rol-Tanguy, filha do coronel Rol Tanguy, que dirigiu as forças francesas em Paris.

Mas as homenagens também são populares: bandas marciais, músicos e dançarinos já se apresentaram no sábado para lembrar o clima de Paris, no dia 24 de agosto de 1944, quando os primeiros soldados chegaram.

"Os edifícios cantam a Marselhesa, ruas inteiras aplaudem à noite (...) Um concerto de sinos ressoa por volta das 22h00, derramando lágrimas (...) Paris não dorme esta noite", descreveu o jornalista Jean Le Quiller, da Agence France-Presse (AFP).

"História das nossas liberdades"

Este sábado, Paris também prestou homenagem aos 160 homens da 'Nove', a 9.ª companhia do regimento em marcha do Chade, na sua maioria republicanos espanhóis, que sob o comando de Leclerc e do capitão Raymond Dronne, foram os primeiros a entrar a capital.

Apesar do seu papel ativo na libertação de Paris, só na década de 2000 é que estes homens foram reconhecidos. Após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), estes continuaram a lutar no norte da África, em França e na Alemanha para derrotar os nazis.

"Ao libertar Paris, estes homens marcaram o início da libertação da França e do continente europeu (…), da história europeia, da história das nossas liberdades", celebrou no sábado a autarca parisiense, Anne Hidalgo.

Mas a sua história foi esquecida durante décadas. Depois da guerra, uma França marcada pela colaboração do regime de Vichy com a Alemanha nazi tentou apresentar a libertação de Paris como um ato dos franceses.

"Paris indignada! Paris destruída! Paris martirizada! Mas libertada, libertada por si mesma, libertada pelo seu povo, com a colaboração dos exércitos da França", grita em 25 de agosto o general Charles de Gaulle, líder da França Livre.

Mas os descendentes dos exilados espanhóis continuam a sua luta pela memória da 'Nove' e "de todos os estrangeiros que permitiram esta vitória da liberdade e da paz" de França, nas palavras de Véronique Salou, da associação "24 de agosto de 2024".