Numa creche do 7.º bairro de Paris, a escassos 500 metros do hotel de Matignon – a residência oficial do primeiro-ministro francês – a maioria dos eleitores entrevistados pela agência Lusa considera que a campanha para a primeira volta das eleições legislativas foi “inexistente” e não mereceu ser seguida pelos eleitores.
Jocelyne, 67 anos, sai da assembleia de voto de óculos de sol e vestido amarelo, carregando um saco de compras, e diz à Lusa que se deslocou hoje às urnas porque teme que o atual Presidente da República, Emmanuel Macron, perca a sua maioria absoluta, o que tornaria a França “ingovernável”.
“Votei no senhor Macron, nenhum dos outros candidatos me interessa. Votei nele por tudo o que ele já fez pela França, tudo o que nos trouxe, e porque é uma pessoa inteligente, que sabe dirigir a França. Considero que o seu primeiro mandato foi um bom mandato”, frisou a sexagenária.
À semelhança de Jocelyne, a grande maioria dos habitantes do 7.º bairro de Paris apoia o atual Presidente francês: na primeira volta das eleições presidenciais, em 11 de abril de 2022, foi neste bairro que Macron registou o melhor resultado na capital francesa, obtendo 48,47% dos votos.
Contando com o apoio da coligação Juntos! (Ensemble!, em francês) nestas eleições, Macron parece, no entanto, ter convencido menos eleitores do nas presidenciais. Maxime, por exemplo, hoje veio votar no Presidente francês mais por dever do que por convicção.
Para o jovem de 30 anos, a coligação Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) – uma aliança de forças de esquerda, liderada por Jean-Luc Mélenchon, que junta partidos que partilhavam divergências históricas, como o Partido Socialista, a França Insubmissa ou o Partido Comunista – pode tirar a maioria absoluta a Emmanuel Macron, e apenas serve para alimentar o ego de Mélenchon.
“É uma aliança utópica, irresponsável e demagógica. O Mélenchon está a tentar ganhar destaque, porque não ficou contente por não se qualificado para a segunda volta das eleições presidenciais”, defende o jovem.
Denis, de 80 anos, partilha a opinião de Maxime: a NUPES é uma “brincadeira” e uma “aliança de circunstância que não vai durar”, porque não se baseia “em nenhum programa, nem em nenhuma convicção”.
O octogenário, de cabelo escovado a pender e queixo ferido depois de se ter barbeado, está desiludido com o sistema eleitoral, que diz “não respeitar o povo francês”. Em jeito de revolta, hoje votou nulo.
No próximo domingo – data da segunda volta das eleições legislativas –, diz que nem irá fazer o esforço de se deslocar às urnas: “Para quê? Não serve para nada. Se estiver bom tempo, prefiro ir à pesca”.
“Caso Macron perca a maioria absoluta, não vai ter grande significado: vai impedi-lo de fazer todos os disparates que tem feito até agora, com a sua incapacidade para fazer reformas, a sua incapacidade no que se refere à educação nacional, às Forças Armadas e aos hospitais. Foi uma catástrofe, estamos em queda”, considera Denis.
Partilhando a desilusão com a política, Catherine, de 67 anos, também afirma que o “voto hoje já não serve para nada” e que “não se deve esperar nada dos políticos, são todos uma farsa”.
No entanto, ao contrário de Denis, a sexagenária hoje votou num dos partidos de extrema-direita, sem querer precisar em qual, por considerar que são os únicos que querem “defender os verdadeiros valores da República e conservar o espírito francês".
“Teria prazer em que o senhor Macron perdesse a maioria”, confessa.
Entre o medo de um cenário de ingovernabilidade e o rejúbilo com a ausência de uma maioria absoluta para Macron, Vincent, de 60 anos, tem uma solução que considera “ideal”: uma coabitação entre Macron e todos os partidos de direita, incluindo os extremistas Marine Le Pen e Eric Zemmour.
“O ideal seria que todas as direitas se unissem, desde os Republicanos até Zemmour e Marine Le Pen. Aí, teríamos uma bela coabitação”, afirma o sexagenário, que sustenta que, hoje “já não existe extrema-direita em França na conceção que existia há 20 anos".
Questionado sobre se considera que uma coabitação que incluísse personalidades tão díspares como Macron, Le Pen e Zemmour seria sequer possível, Vincent responde: “Se ela for imposta, haverá certamente uma coabitação! E seria certamente desejável”.
Até às 12:00 de Paris (11:00 de Lisboa), 18,43% dos eleitores franceses tinham-se deslocado às urnas, menos 0,8% do que no mesmo período durante a primeira volta das últimas legislativas, em 2017.
Nesse escrutínio, tinham-se batido recordes de abstenção, com 51,29% dos franceses a decidirem não se deslocar às urnas.
A segunda voltas das eleições legislativas está marcadas para 19 de junho.
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