O projeto de resolução do Chega recomendava ao Governo a realização, no ano de 2022, de um “novo estudo nacional sobre as comunidades ciganas, que incorpore a atualização do estudo elaborado em 2013/2014 pelo ACM – Alto Comissariado para as Migrações e pelo IHRU, e que assegure a participação da sociedade civil”.
O Chega ficou isolado no voto a favor e o PSD absteve-se, tendo as restantes bancadas e deputados únicos votado contra.
Durante o debate, o presidente do Chega disse que o objetivo do seu partido era a realização de um estudo com vista ao “conhecimento e aprofundamento de quem são os ciganos em Portugal”, sem “segundas intenções”, mas ouviu um coro de críticas.
A deputada Alexandra Leitão, do PS, afirmou que o partido de extrema-direita “pretende recensear quem são, onde estão, onde mora uma comunidade em especial” e criticou que “isto não tem anda a ver com conhecer, estudar, isto cheira a perseguição e a discriminação”.
“Isto é como uma raposa no galinheiro a querer estudar as galinhas”, salientou Emília Cerqueira, do PSD, acusando o Chega de fazer “a sua agenda culpando os ciganos de tudo e mais alguma coisa”.
Apesar de considerar que "é necessário haver uma atenção especial com a comunidade cigana", apontando "os casamentos forçados de menores, a integração social, as abordagens que a comunidade precisa", a social-democrata sustentou que "nunca no sentido que o Chega quer, que é persecutório desta comunidade”.
“Depois de propor o confinamento da comunidade cigana, vem propor a realização de um estudo para caracterização desta comunidade. Qual é afinal a obsessão do Chega com esta comunidade, porquê a perseguição?”, questionou a deputada Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal, acusando o partido de fazer desta comunidade “um alvo”.
Joana Mortágua, do BE, criticou que “o Chega pretende perseguir” a comunidade cigana “em vez de resolver os problemas do país”.
Por seu turno, a comunista Alma Rivera afirmou que as comunidades ciganas, “como as demais”, já são “objeto de estudo, e esses estudos vão continuar a ser feitos” e considerou que o objetivo do partido de André Ventura é “discriminar, apontar o dedo”.
Juntando-se às críticas, Rui Tavares, do Livre, comparou o Chega aos “partidos antissemitas” do século passado.
Já a deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, defendeu que “há duas formas de encarar a política de inclusão”, uma é cedendo ao “discurso do medo, preconceito e ódio, a outra são os factos, que demonstram bem que os imigrantes dão mais ao Estado do que recebem”.
Na resposta às críticas no encerramento do debate, André Ventura defendeu que o seu objetivo “não é perseguir, não é discriminar, é querer saber, porque querer saber é o primeiro passo para integrar”, e criticou que “esconder o problema, dizer que não existem, fingir que nada acontece com a comunidade cigana é ignorar o sofrimento de tantos portugueses”.
Hoje, os deputados debateram também um projeto de lei do PAN sobre medidas de combate à discriminação de cidadãos estrangeiros, que desceu a comissão sem votação.
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