O debate começou pouco energético com a situação económica internacional e como isso afeta Portugal. André Ventura foi o primeiro a ter a palavra e sublinhou que é necessário proteger a economia e “criar condições” com “estabilidade e força, como não é aquela que Pedro Nuno Santos e o PS deixaram”.

O essencial do debate em 5 pontos

Quem ganhou em termos de presença / clareza?

Nenhum. No fundo, o confronto foi muito sobre quem melhor acusava o outro de alguma coisa. No caso de André Ventura, muitas vezes o tom de voz e a interrupção foram utilizados para se fazer ouvir. Já Pedro Nuno Santos esteve sempre mais calmo, mas sem grandes ideias novas e sobretudo concentrado em contrapor o adversário.

Houve frases/momentos que se vão tornar virais? Quais?

Não houve frases que fiquem para a história, mas a selecionar uma de cada protagonista poderiam ser estas:

Pedro Nuno Santos: “Está ao lado dos portugueses ou do seu amigo e aliado Donald Trump?”

André Ventura: "Se Pedro Nuno Santos não geriu bem num ministério, como vai gerir bem todos os ministérios?"

Que temas dominaram (e quais ficaram de fora)?

O debate andou muito em volta do tema imigração, mesmo quando este não era propriamente relevante de ser mencionado. Ficaram de fora temas como a Defesa, a Saúde ou a Educação.

Quem esteve mais à vontade e quem esteve mais pressionado?

Estavam ambos bastante à vontade e confortáveis no papel de líderes partidários em oposição que já representaram nas últimas eleições. Estavam confiantes nas suas propostas e nenhum estava particularmente pressionado.

André Ventura esteve mais na defensiva e regularmente a interromper Pedro Nuno Santos. Chegou até a dizer: “Está-me a irritar (…) debater com o PS irrita-me”.

Que impacto pode ter nas sondagens?

Não foi um debate que decidisse votos. Nenhum dos partidos teve particular preocupação em expor o programa e foi sobretudo um atirar de acusações entre líderes. Os eleitores que optarem por votar, quer pelo PS, quer pelo Chega, não ficaram mais decididos baseando-se neste confronto.

“É uma economia que não se deixa invadir de produtos chineses, indianos, paquistaneses, da América do Sul, como o PS deixou”, reforçou depois, sublinhando que se deve protegê-la, "dando prioridade aos europeus e aos produtos europeus”.

Ventura acusou depois o PS de “patrocinar” acordos, nomeadamente: “A Europa é uma entidade porreira, pode entrar tudo o que quiser, na imigração é a mesma coisa”. Neste sentido, sugere que se ponha fim ao acordo do Mercosul, que, diz, compete com os agricultores.

"Quem criou este mundo e este país foram os amigos de Pedro Nuno Santos por essa Europa fora", diz Ventura.

Sobre este tema, Pedro Nuno Santos responde a Ventura e deixa uma pergunta: “As tarifas anunciadas têm impacto profundamente negativo nas nossas empresas. Está do lado dos portugueses ou de Donald Trump?”

“Defender os portugueses é combater as tarifas”, afirmou Pedro Nuno Santos, que diz que o país depende de exportações e que “não pode viver apenas para o mercado doméstico”. Lança novamente a pergunta: “Está ao lado dos portugueses ou do seu amigo e aliado Donald Trump?”.

"Deu cabo da TAP, da ferrovia, da CP"

É depois a vez de André Ventura responder que acha “curioso” que Pedro Nuno Santos o considere mau na economia, e refere: “Deu cabo da TAP, da ferrovia, da CP. Se eu tenho uma má compreensão da economia, dêem-me uma oportunidade, porque o homem que está à minha frente destruiu a economia.”

Em resposta à questão de Pedro Nuno sobre Trump, o presidente do Chega diz que “não é presidente dos EUA”, mas que foram os “amigos de Pedro Nuno Santos” que fecharam acordos na Europa. Sobre Trump, acrescenta: “Estou em desacordo, ainda mais foi com termo-nos deixado invadir não só de mão-de-obra como de produtos".

Pedro Nuno Santos responde que agradece que Ventura traga a TAP e a CP ao debate, que diz ter deixado “a dar lucro”. “É uma questão de facto e não de opinião pessoal”, defende. “Os setores que citou são os que não vivem da economia portuguesa, o têxtil e o do calçado. Essa corrida protecionista que defende teria dano tremendo na economia nacional”, afirma ainda.

"Foi termo-nos deixado invadir, não só de mão-de-obra, como de produtos baratos chineses, indianos, paquistaneses e outros da América do Sul que os senhores permitiram, isso é que matou a cortiça, os têxteis. A concorrência chinesa matou o nosso calçado, o nosso têxtil", responde Ventura.

Garante ainda, que se fosse primeiro-ministro, teria a certeza de uma coisa: "os nossos agricultores vão ser protegidos, a nossa indústria automóvel vai ser protegida, os nossos trabalhadores vão ser protegidos".

PS pronto para a guerra comercial

Pedro Nuno Santos garante que as suas medidas “custam metade” do que custam as da AD e que já estão preparadas para fazer face à guerra comercial e à eventual escalada de preços.

Defende ainda que, “no quadro da uma incerteza e do risco inflacionista, são boas”, nomeadamente no que diz respeito ao IVA zero no cabaz alimentar — que recusa que beneficie todos por igual: “O IVA como é um imposto regressivo, a sua redução acaba por beneficiar quem ganha menos”.

"Se Pedro Nuno Santos não geriu bem num ministério, como vai gerir bem todos os ministérios?"

Voltando a acusações sobre o tempo de Pedro Nuno Santos como ministro, André Ventura antecipou que o programa do Chega vai ser apresentado quinta-feira e diz que quer “o mesmo tempo de comício” no programa do Chega do que houve no da AD. Questiona ainda: “Se o Pedro Nuno Santos não geriu bem num ministério, como vai gerir bem todos os ministérios?”

O debate segue para o tema da habitação, com André Ventura a sublinhar que “Portugal é o país onde é mais difícil aceder a casa”. Segue depois para impostos, para dizer que o PS propôs aumentar o IUC e que Chega foi contra. “Agora, propõe baixar o IUC, gostava de perguntar o que mudou". Acusa ainda o PS de apresentar IVA Zero no cabaz de bens essenciais depois de ter votado contra a proposta do Chega que dizia o mesmo.

A estas acusações, Pedro Nuno Santos responde sobre habitação, afirmando que o programa que lançou “está a dar resultados em todas as áreas que estiveram sob a minha tutela”. Lamenta ainda que inaugurações do programa de habitação estejam “a ser feitas por Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro”.

Quanto à redução do IUC, Pedro Nuno Santos diz que a sua primeira decisão “foi recuar no aumento do IUC”. Defende ainda a redução porque “muitos portugueses dependem do carro para trabalhar”. Ventura acusa-o de eleitoralismo por ter mudado de posição. O socialista continua com o mesmo argumento e diz que “onde não há alternativa deve reduzir-se o custo das famílias”.

Ventura confronta Pedro Nuno Santos por ter estado no Governo de Costa e agora dizer o contrário. “Parece que está a dizer que Costa fez mal tudo, esqueçam que o PS existiu e eu sou um homem novo". “Isto não é São Paulo, caiu do cavalo e viu a luz”, diz, acusando o socialista de “ser herdeiro”. Pedro Nuno acusa Ventura de estar a “esbracejar mas sem dizer nada de concreto”.

"PS tem a lógica de taxar, taxar, taxar"

André Ventura garante que “a descida do IRC não vai ficar dependente do PS”. “Temos de descer o IRC às empresas porque estão sufocadas de impostos e burocracia. O PS não quer isto porque tem a lógica de sacar a quem trabalha e investe e distribui por quem não quer fazer nada.”

“O PS tem a lógica de taxar, taxar, taxar. Pedro Nuno Santos sempre foi contra a descida de impostos. Quer taxar mas podia ser para Portugal crescer, mas é para distribuir pela malta que não quer fazer nada e para um conjunto de parasitas, no Estado e fora dele, que nos continuam a empobrecer”, diz. E questiona-se sobre quem o chama de radical e aponta: “Comigo vai ser cortar a direito”.

O tema volta a ser a imigração, com Pedro Nuno Santos a dizer que “é um tema complexo que não pode ficar entre os extremos de quem não quer regulação nenhuma e de quem quer fechar as portas”.

Defende uma “imigração regulada” e a entrada no país “pelas vias legais”. Sobre mudança de posição no PS, Pedro Nuno diz que a manifestação de interesse “fez sentido num período, mas é um mecanismos desajustado que dá incentivos errados, quando se quer é que as pessoas procurem mecanismo legais” para entrar.

O debate segue nesta altura para um momento particularmente quente, com Pedro Nuno Santos a dizer que o programa do Chega é uma “irresponsabilidade” e “irrealismo”. Nesta altura, André Ventura insiste com a questão do IUC novamente.

“Está-me a irritar (…) debater com o PS irrita-me”, diz Ventura depois de várias interrupções.

“A mim também me irrita muita coisa que o André Ventura diz, mas tenho de ter a maturidade suficiente”, explica Pedro Nuno Santos. Ventura responde: “Custa-me, são 50 anos a levar convosco".

"Nós tivemos provavelmente a maior taxa de crescimento de imigrantes que a Europa alguma vez assistiu"

André Ventura culpa ainda o PS pelas “políticas de portas abertas”, apontando a Costa e Pedro Nuno Santos. “Nós tivemos provavelmente a maior taxa de crescimento de imigrantes que a Europa alguma vez assistiu num período recente”, diz.

Culpa ainda o PS por ter acabado com a polícia de fronteira, o SEF, e reforça: “Não é Pedro Nuno Santos, Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo que vão defender as fronteiras com cravos.”

Ventura diz ainda que “há gangues, violações e que o crime está a aumentar”, destacando que “não há evidência porque relatórios não têm nacionalidade”. Insiste ainda na proposta do Chega de expulsão para imigrantes que cometem crimes.

Neste ponto, Pedro Nuno Santos diz que Ventura “mente sistematicamente sobre imigração porque o Chega precisa de um medo, de um inimigo para existir”.

Diz ainda que “há uma diferença” entre os dois: “Eu quero garantir que quem cometa um crime em Portugal cumpra pena. André Ventura acha que devem ser expulsos e não consegue garantir que cumpram pena lá fora. Eu quero que quem cometa um crime em Portugal cumpra pena”, repete.

André Ventura realça neste ponto que esta conversa deixa Portugal “neste estado”. “Quando houve problemas no Martim Moniz, não foi ter com a polícia, foi ter com a comunidade do Bangladesh”, acusa Ventura.

Pedro Nuno Santos responde, lembrando que há portugueses que cometem crimes no estrangeiro: “Nunca me passou pela cabeça que se retire uma conclusão sobre a comunidade portuguesa a partir de alguns portugueses que cometem crimes no estrangeiro".

O debate termina com corrupção

O último tema do debate é a corrupção e ética, com Pedro Nuno Santos a defender um “combate firme e sem tréguas à corrupção”, e que a maior parte dos mecanismos para este combate “foram criados por governos do PS”.

Diz que “Ventura e Chega não têm autoridade moral para apontar o dedo a ninguém em Portugal”. “Limpa e arruma, mas é seletivo. Cristina Rodrigues foi condenada e está na lista de deputados”, acusa. Ventura reclama que “é falso”, que “não foi condenada”. O socialista acrescenta: “Move-se quando os casos envergonham o Chega e não tem autoridade nenhuma para apontar o dedo a quem quer que seja”.

O líder do PS sublinha por fim que o partido “é a mudança segura em Portugal temos a competência e a experiência”. Ventura aproveita para lhe mostrar uma resma de folhas que diz ser a “lista de casos do PS na Justiça”. Pedro Nuno responde-lhe que “a bancada com mais problemas na justiça no parlamento é a do Chega. Não tem autoridade moral nenhuma”, e acaba o tempo.

Síntese do debate:

Ética e Corrupção

A ética e corrupção foram um dos principais temas do debate, com acusações de parte a parte, nomeadamente no final do confronto. Também foi tema a meio do debate, quando Ventura acusou Pedro Nuno Santos de mau trabalho enquantro ministro das Infraestruturas, com casos de má gestão conhecidos como a TAP e a CP.

A polémica que fez cair o governo não foi o assunto mais falado durante o debate, mas Ventura fez questão de salientar brevemente: “Não tenho nada contra primeiros-ministros ricos, não aceito é que haja primeiros-ministros a enriquecer sem percebermos como”. Salienta ainda que “não é voyeurismo” e chama Sócrates à conversa, dizendo que “afinal era a terceira mão a desviar”.

Apontou ainda que “pugnar pela ética e meter Hugo Mendes, o secretário de Estado da famosa indemnização da TAP nas listas do PS, é dar um péssimo exemplo de ética e transparência”.

Gestão da Saúde

Foi um tema que nunca foi referido neste debate.

Política Fiscal

Foi um dos principais temas do debate nomeadamente com acusações lançadas às más políticas, na ótica do Chega, levadas a cabo por governos do PS. André Ventura acusa ainda Pedro Nuno Santos de ser incoerente por colocar no programa políticas como o IVA Zero, que votou contra numa proposta do Chega, ou a redução do IUC, algo que eram contra em anteriores legislaturas. “Agora, propõe baixar o IUC, gostava de perguntar o que mudou", disse Ventura.

Segurança e defesa

Outro tema que também se podia assumir que seria tocado neste debate, tendo em conta a proximidade do Chega à defesa das forças de segurança, mas não foi o mais falado.

A questão da segurança chegou quando se falou de imigração, nomeadamente nas acusações ao PS pelo fim do SEF, e diretamente a Pedro Nuno Santos ao falar sobre o caso do Martim Moniz e a não defesa da polícia pelo PS: “Quando houve problema no Martim Moniz, não foi ter com a polícia, foi ter com a comunidade do Bangladesh”.

André Ventura insistiu durante o debate que a Europa e Portugal devem apostar numa política de menos imigração porque "tivemos provavelmente a maior taxa de crescimento de imigrantes que a Europa alguma vez assistiu num período recente", isto devido ao PS e à “política de portas abertas”.

O tema da Defesa nunca foi falado em todo o debate.

Imigração

É sem dúvida o tema que causou mais divergências entre os dois partidos em confronto, com visões bastante distantes. “Não é Pedro Nuno Santos, Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo que vão defender as fronteiras com cravos.”, acusa Ventura.

Ventura diz ainda que “há gangues, violações e que o crime está a aumentar”, destacando que “não há evidência porque relatórios não têm nacionalidade”. Neste ponto, Pedro Nuno Santos diz que Ventura “mente sistematicamente sobre imigração porque o Chega precisa de um medo, de um inimigo para existir”.

O tema regressa várias vezes durante o dabate.

Habitação

A habitação foi também levemente abordada no debate, com Ventura a sublinhar que “Portugal é o país onde é mais difícil aceder a casa”. Já Pedro Nuno Santos responde que o programa que lançou “está a dar resultados em todas as áreas que estiveram sob a minha tutela”. Lamenta ainda que inaugurações do programa de habitação estejam “a ser feitas por Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro”.

Tarifas

É um dos grandes temas do debate. É, aliás, o tema inicial e leva Pedro Nuno Santos a questionar André Ventura: “Está ao lado dos portugueses ou do seu amigo e aliado Donald Trump?”.

Por seu lado, o líder do Chega refere que é necessário proteger a economia e “criar condições” com “estabilidade e força, como não é aquela que Pedro Nuno Santos e o PS deixaram”.

“É uma economia que não se deixa invadir de produtos chineses, indianos, paquistaneses, da América do Sul, como o PS deixou”, diz ainda.

Ventura sugere ainda que se ponha fim ao acordo do Mercosul, que, diz, compete com os agricultores.