São muitos os nova-iorquinos que, mesmo sem familiares, amigos ou colegas entre os quase três mil mortos provocados pelo atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, passaram anos a evitar o local conhecido como “Ground Zero”, no Centro Mundial do Comércio (WTC, na sigla em inglês), que esteve sempre em constante reinvenção e reconstrução.

A cidade de Nova Iorque dedicou oito meses de trabalho incessante, com milhares de voluntários e trabalhadores, para limpar os escombros provocados pelo derrube das Torres Gémeas e 10 anos até inaugurar um museu e memorial dedicados ao 11 de Setembro. Vinte anos depois, a reconstrução no World Trade Center ainda continua.

“Muitos turistas querem ir ver [o local do atentado], mas como nova-iorquinos, a maior parte de nós não. Até certo ponto, é uma ferida em que não queremos tocar”, declarou Alan Fausel à agência Lusa.

Curador de arte, Fausel vive há várias décadas em Nova Jérsia, e faz uma viagem diária para o trabalho, em Nova Iorque. Só no ano passado foi, pela primeira vez, ao “Ground Zero”.

Alan Fausel trabalhava noutro lado da cidade, em Upper East Side, quando viu o desastre na televisão e não perdeu nenhuma pessoa próxima no 11 de Setembro. No entanto, com o fumo e destroços que se viam desde Nova Jérsia e com os ‘posters’ afixados por toda a cidade de Nova Iorque a procurar pessoas perdidas, as semanas e meses seguintes foram de “muito choque” para todos.

Ainda agora, o regresso ao World Trade Center “é realmente uma coisa muito emocional”, declarou, em entrevista à agência Lusa.

No início do milénio, a zona de Lower Manhattan, ou a baixa de Nova Iorque – mais precisamente toda a zona desde a rua 14 até ao rio – era um centro onde se entrelaçavam a economia e negócios da cidade, o governo local e demonstrações culturais.

Em 2001, o World Trade Center, um complexo com sete edifícios, albergava mais de 430 companhias e era o local de trabalho para cerca de 30 mil a 50 mil pessoas.

Atualmente, este entrelace de negócios, poder político e cultura foi reforçado e o WTC é visto como um lugar de “constante reinvenção”, segundo se lê no ‘website’ do edifício 3 WTC.

Ronald Nap, proveniente de Princess Anne, Maryland, visitou a cidade de Nova Iorque várias vezes nos anos 1990 e viu o World Trade Center intacto. Um ano após o ataque terrorista, Ronald regressou à cidade por razões profissionais e religiosas e ainda viu sinais da destruição de 2001.

“Era só buracos e destroços”, recordou, em entrevista à agência Lusa.

Do outro lado da rua das torres destruídas, encontra-se a St. Paul’s Chapel (Capela de São Paulo), que serviu como ponto de paragem e descanso para as equipas de resgate e se transformou num centro de voluntariado durante todo o processo de limpeza.

Em 2002, Ronald viu a Capela de São Paulo cheia de objetos, lembranças e mementos do desastre.

“Os assentos na igreja estavam cobertos com todo o tipo de notas das pessoas que fizeram parte dos esforços de resgate. Emocionou-me até às lágrimas”, disse Ronald Nap.

Em 2021, sentado num banco de cimento na praça do 11 de Setembro, data conhecida como 9/11 nos Estados Unidos, Ronald Nap diz-se agora “encantado” com “o desenvolvimento” que nota no World Trade Center.

O atual Centro Mundial do Comércio é formado por cinco prédios, inaugurados entre 2006 e 2018. Ainda estão por acabar dois edifícios, nomeadamente os números 2 e 5 do WTC, ao lado de um centro de artes performativas, o Ronald O. Perelman, que também está inacabado.

O edifício número 1 do WTC, aberto em 2014, é o prédio mais alto dos Estados Unidos, com uma altura de 541 metros, simbolizando a união e o reemergir depois dos destroços.

No lugar das antigas Torres Gémeas, que desapareceram no ataque terrorista de 11 de Setembro, que ceifou a vida a 2.753 pessoas só em Nova Iorque, foi criado o memorial e museu, com uma área de 32.375 metros quadrados.

Restaurantes, bares, capelas, parques e o centro comercial Oculus encontram-se a alguns minutos de distância do memorial, assim como a Bolsa de Valores de Nova Iorque, para além de outros marcos culturais e arquitetónicos.

Na opinião de Naomi Ibrahim, de 16 anos, a zona demonstra modernismo e ostenta a sua novidade. No entanto, o pai de Naomi não se rendeu às novas construções, porque, na sua opinião, causam uma sensação mais fraca do que a antiga ‘skyline’ (linha do horizonte).

“Ele não gosta muito da nova construção, porque não tem muito a ver com as antigas. (…) As Torres Gémeas eram icónicas. Os edifícios são bonitos, mas acho que não têm o mesmo efeito”, considerou Naomi à agência Lusa.

Várias estações de metropolitano estão à volta do “Ground Zero”, sendo a principal a Fulton Center, onde se encontram 12 linhas de metro.

O WTC é de fácil acessibilidade e comunicação para outras importantes partes da cidade, onde vivem 8,8 milhões de habitantes, como East Village, Williamsburg, Downtown Brooklyn, e ainda para Hoboken e Jersey City, no Estado vizinho de Nova Jérsia.