Patrícia Sampaio estuda comunicação e no futuro quer ser jornalista de desporto, mas, para já, é no tatami que se dedica ao judo, modalidade em que é líder mundial de juniores e uma das mais fortes promessas nacionais.

“Quero ser jornalista desportiva, depois do judo, quando acabar o curso [de ciências da comunicação]. Agora quero focar-me só no judo. Estou a fazer o curso aos bocadinhos, a tempo parcial”, afirmou a judoca, em entrevista à agência Lusa.

A ‘casa’ onde treina, em Tomar, mostra os retângulos amarelos dispostos alinhadamente uns junto aos outros, formando um amplo tapete que lhe ampara as quedas, sob o ‘olhar’ de Jigoro Cano, o fundador do judo, numa moldura junto a uma das paredes.

É nesse espaço, na Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, em Tomar, que a judoca treina, com a orientação do irmão e seu treinador, Igor Sampaio, antigo judoca e o ‘mestre’ para quem Patrícia olha como exemplo e inspiração.

“O meu irmão sempre foi o meu ídolo. E à medida que fui crescendo, e observo o judo, se calhar [mais] uma pessoa ou duas da minha categoria [Kayla Harrison e Mayra Aguiar], que têm um palmarés muito avançado e que um dia gostava de conseguir atingir, não digo ídolos, mas inspirações. E a Telma, claro, ainda por cima agora que convivo com ela”, contou.

A universidade e o investimento no judo, com dois títulos europeus em juniores e três subidas ao pódio em Mundiais, obrigam Patrícia Sampaio a concentrar a sua vida em Lisboa, mesmo que o coração esteja na sociedade tomarense.

“Tenho uma ligação emocional a este clube e, claro, também passa pelo facto de o meu irmão ser meu treinador, há uma proximidade diferente, que nem toda a gente tem a sorte de ter. Sinto-me muito bem aqui, cresci aqui…”, diz, quando questionada em relação à possibilidade de ir para um ‘grande’ clube.

Em Lisboa, tem contado com o apoio do Judo Clube de Lisboa, onde treina quando não tem preparação na seleção, que habitualmente acontece às terças e quintas-feiras, dias em que trabalha com as outras internacionais.

Entre elas, Telma Monteiro, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Rio2016 e a judoca portuguesa mais medalhada de sempre, que considera uma inspiração, ou Rochele Nunes e Bárbara Timo, com quem se dá muito bem.

“Os meus objetivos neste momento são chegar ao ‘top-8′"

Patrícia vive um dos melhores momentos no judo feminino português, que a seis meses de fechar a qualificação para os Jogos de Tóquio2020 tem atletas em lugares elegíveis em quase todas as categorias, com a própria a ser décima nos -78 kg.

“Os meus objetivos neste momento são chegar ao ‘top-8′ [da qualificação], ainda melhor chegar ao ‘top-4′, mas já estar no ‘top-8′ do ‘ranking’ olímpico era muito bom para conseguir ser cabeça de série nos Jogos”, disse a judoca, atual 12.ª, em entrevista à agência Lusa.

O ano de 2019 voltou a colocar a atleta de Tomar como a melhor júnior mundial da sua categoria, nos -78 kg, na qual conquistou em setembro o segundo título europeu na Finlândia, e em outubro o terceiro bronze em Mundiais do escalão, em Marrocos.

“Claro que os objetivos passam por pontuar em todas as provas a que vou. Fazer os melhores resultados possíveis, para depois também estar confortável no apuramento e poder focar-me em treinar para fazer uma boa prestação nos Jogos Olímpicos”, acrescentou.

Antes da competição em Tóquio, com as categorias de judo a decorrerem entre 25 de julho e 01 de agosto, a judoca olha também para os Europeus, a última grande prova antes dos Jogos e que fecham o apuramento.

“Se penso numa medalha? Penso sim. Especialmente, depois de ter estado a um bocadinho da medalha no Mundial, penso completamente em conseguir uma medalha”, disse à Lusa a judoca, lembrando o quinto lugar no Mundial de seniores.

No campeonato, que decorreu também na capital japonesa, a judoca da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, em Tomar, ficou à porta do pódio, depois de perder no combate para o bronze com a brasileira Mayra Aguiar, uma das adversárias que mais admira no circuito.

“Conseguimos criar uma boa relação, gosto muito de treinar com ela, de a ver no tapete, de ver a postura, de a ver trabalhar. Claro, depois de tudo o que já atingiu é uma inspiração para mim, é uma das pessoas mais fortes na minha categoria”, explicou.

Além de Mayra, que foi bronze em dois Jogos Olímpicos, Patrícia Sampaio tem como referência a norte-americana Kayla Harrison, bicampeã olímpica, em Londres2012 e Rio de Janeiro2016, e que, entretanto, se retirou.

Nos -78 kg, considera que ainda são muitas as adversárias a ter em conta, numa categoria com nomes fortes: “ainda tenho várias. Brasileira, francesa, as holandesas também são muito fortes no meu peso, e as alemãs”.

Este ano, Patrícia Sampaio foi destaque no portal na Internet ‘Judo Inside’, como uma das judocas mais promissoras em 2019, algo que desconhecia, mas que não a deixou indiferente, num ano que reconhece ter sido de mudança.

“Houve esse ‘boost’, ganhei muito mais experiência, comecei a fazer mais estágios internacionais, a conhecer melhor as atletas, e eu própria tornei-me mais forte, claro. Acho que foi por isso que houve esse ‘boost’ do ano passado para este ano. Entrar no escalão e conseguir começar a afirmar-me”, justificou.

Ultrapassada a transição em 2016 dos -70 para os -78 kg, e, depois, em 2018, a integração entre juniores e seniores, fez parte do crescimento da judoca, com maior e mais regular participação no escalão maior.

“Era júnior e comecei a competir nos seniores, sabia que tinha de ser forte mentalmente, não ia ter os resultados que pretendia logo no momento e ia ter que aguentar e crescer com isso”, disse.

Com a adaptação praticamente concluída, a judoca revela quais as técnicas preferidas: “os meus ataques mais efetivos são projeções de joelhos, virar as costas”, revelou, adiantando que as técnicas de ‘seoi nage’ e ‘sode’, para a esquerda, são as favoritas, numa modalidade de que não gostou à primeira, mas à qual acabou por se ‘render’.