“As pessoas aqui nem sabem os nomes dos candidatos que concorrem contra Kagame”, afirmou à agência noticiosa Associated Press Chris Munyaneza, um universitário que vive em Kigali. “As pessoas nem se interessam”.
“Não há excitação porque as pessoas conhecem o vencedor há muito tempo”, disse outro residente na capital ruandesa, que pediu o anonimato.
Vários eventos de campanha de Mpayimana ficam quase vazios, sublinhando a crença generalizada entre os ruandeses que as eleições presidenciais desta sexta-feira são apenas uma nova coroação de Kagame, que venceu o último escrutínio em 2010 com 93% dos votos.
Em Kigali, a limpa e arrumada capital ruandesa, quase não se percebe que o país está em vésperas de eleições. Os candidatos presidenciais foram proibidos de afixar cartazes de campanha na maior parte dos locais públicos, incluindo escolas e hospitais, e a comissão eleitoral tem multiplicado os avisos aos candidatos para controlarem as respetivas mensagens nas redes sociais, sob pena de verem as respetivas contas bloqueadas.
Kagame tem sido o presidente de facto desta nação africana de 12 milhões de pessoas desde que os rebeldes da Frente Patriótica do Ruanda (RPF, na sigla inglesa), tomaram Kigali em 1994, colocando um ponto final a um genocídio que custou a vida de quase um milhão de tutsis e hutus em 100 dias.
Primeiro, Kagame liderou a recuperação e depois o notável sucesso económico de um país cuja economia se encontra a crescer 6,8% ao ano, mas também inspirando o medo a muitos dos que tentaram enfrentá-lo.
A comissão eleitoral do Ruanda desqualificou três candidatos potenciais a estas eleições por alegadamente não preencherem determinados requisitos, incluindo a recolha de assinaturas suficientes para concorrer.
Outros dois, Mpayimana e Frank Habineza, este último líder do Partido Verde Democrático do Ruanda – a única oposição real no país, que se opôs no referendo à alteração constitucional que permitiu a Kagame concorrer a um terceiro mandato -, foram autorizados a candidatar-se.
Kagame, agora com 59 anos, reclamou já a vitória, afirmando aos seus apoiantes num evento e campanha em julho que o vencedor das eleições é já conhecido há muito tempo, pelo menos desde 2015, quando o referendo sobre a Constituição lhe abriu o caminho para poder manter o poder até 2034.
Entretanto, à medida que se aproximam as eleições, o clima de tensão tem aumentado, sobretudo depois da surpreendente reforma massiva de mais de 800 oficiais das forças armadas e da detenção de, pelo menos, duas altas patentes militares, uma delas uma figura associada ao coronel Patrick Karegeya, antigo chefe dos serviços de informações que se tornou um dissidente proeminente e foi encontrado morto em janeiro de 2014, aparentemente estrangulado, na África do Sul.
A viúva de Karegeya, que vive nos Estados Unidos, diz que Kagame “é um homem com um ódio infindável, incluindo em relação àqueles que matou”, como o marido.
Duas décadas após uma onda de ataques, frequentemente mortais, contra os opositores políticos, jornalistas e ativistas dos direitos humanos dão conta do “clima de medo” criado, na expressão de um relatório da Amnistia Internacional divulgado no mês passado.
As autoridades ruandesas, incluindo o próprio Kagame, têm negado as acusações dos seus críticos segundo as quais o Governo tem levado a cabo execuções de dissidentes ou está por detrás de vários desaparecimentos.
Os eventos de campanha são fracassos frequentes, aparentemente porque as pessoas não se mostram por medo de serem associadas a opositores políticos do Presidente.
Na cidade de Nyamata, sudeste do país, onde Mpayiamana fez o seu primeiro comício, apenas 15 pessoas, na maioria crianças, apareceram.
A polícia deteve na semana passada o governador do distrito de Rubavu, Jeremie Sinamenye, por alegadamente ele próprio e membros do seu staff terem impedido eleitores de assistirem a eventos de campanha de Mpayiamana.
Habineza, o segundo candidato a concorrer contra Kagame, diz que a sua campanha é um ato de esperança, apesar dos riscos óbvios. O secretário do partido de Habineza desapareceu há dois anos para nunca ser visto e o corpo decapitado do seu número dois, Andre Kagwa Rwisereka, foi descoberto em 2010 em Butare, uma cidade do sul do país.
“É preciso coragem para concorrer contra o Presidente Kagame”, diz Habineza.
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