“Todas as partes têm de ser chamadas. Nós podemos pôr do lado do direito internacional, do lado da soberania e da independência da Ucrânia, do lado da integridade territorial, todos estes parceiros se lhes mostrarmos, como lhes estamos a mostrar, que isto é crítico também para eles”, disse Rangel, que representou hoje Portugal numa ‘mesa-redonda’ sobre segurança alimentar, no segundo e último dia da cimeira realizada em Burgenstock, nos arredores de Lucerna, Suíça.
Apontando que estavam agendadas três sessões temáticas para este segundo dia de trabalhos, designadamente sobre a “segurança nuclear”, a “situação humanitária” dos presos, deslocados e crianças raptadas, e a “segurança alimentar”, o chefe da diplomacia disse que Portugal escolheu esta última, “pois, como o senhor Presidente disse, essa é que põe mais em evidência o caráter global, mundial desta guerra”.
“Portanto, para nós trazermos parceiros, em particular da África e da Ásia, mas também alguns da América Latina, nomeadamente da América Central, para este diálogo, é preciso, naturalmente, ver qual é o impacto que esta guerra tem sobre eles. E então no continente africano isso é claro: é mesmo a fome”, apontou.
Paulo Rangel lembrou que, “felizmente, primeiro, muito por ação das Nações Unidas e do secretário-geral, António Guterres, mas também da Turquia, conseguiu-se um acordo entre as partes beligerantes para fazer a exportação de cereais”, do qual “depois a Rússia saiu”.
“Devo dizer que, aí, há países que, juntamente com a Turquia, colaboraram muito para criar canais alternativos”, designadamente a Roménia e a Moldova, no Mar Negro, “e isso está a garantir que neste momento a exportação de cereais estejam quase ao nível de pré-guerra, o que para estes países é fundamental”, afirmou.
Ainda assim, prosseguiu o ministro, e tal como o Presidente do Quénia, que presidiu aos trabalhos deste grupo, “foi muito claro ao dizer, este conflito tem repercussões mundiais, e, portanto, é preciso envolver todas as partes, e todas as partes são também estas que são afetadas indiretamente nesta solução para a paz”.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros sublinhou ainda que Portugal tem desenvolvido desde o início do conflito esforços, por vezes “veementes”, no sentido de garantir que os pacotes de sanções que têm sido aplicados à Rússia desde o início da sua agressão militar à Ucrânia, em fevereiro de 2022, não tenham efeitos nos continentes africano e asiático em matéria de segurança alimentar.
“As sanções que a União Europeia tem desenhado para a Rússia e que Portugal tem aprovado, com a nossa ‘mão’, e muitas vezes com a veemência dos representantes de Portugal na UE, têm sido sempre adaptadas para evitar as consequências para o continente africano e o continente asiático em termos alimentares. Portanto, temos sempre evitado que as sanções possam ter esse efeito”, disse.
Portugal esteve representado na primeira Cimeira para a Paz na Ucrânia pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo chefe da diplomacia, tendo sido um dos cerca de 80 países a subscrever a declaração adotada no final dos trabalhos.
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