A ASPP vai a eleições na quinta-feira e, em entrevista à agência Lusa, Paulo Rodrigues, que decidiu não se recandidatar, diz que os sindicalistas “são, por norma, uns eternos insatisfeitos” e que o trabalho sindical “nunca fica concluído nem nunca se consegue” o que se gostaria de alcançar.

“No entanto, houve algumas situações que considero positivas. Hoje, a sociedade tem a noção muito mais real do que são os verdadeiros problemas dos polícias. Conseguimos dar visibilidade àquilo que estava mal na polícia, em prol, não só dos polícias, mas também da sociedade. Temos uma Instituição que tem muitas carências, [que] tem muitas dificuldades em dar respostas àquilo que são as exigências da sociedade e que ainda não se adequou à evolução da sociedade”, sublinha o presidente cessante da ASPP.

Para o sindicalista, de 46 anos, a PSP “tem de fazer um grande progresso” e de “investir muito mais” no recrutamento de jovens com o perfil adequado para ingressarem nos quadros da Instituição, para que a mesma possa responder às necessidades da população, mas avisa que “não se pode exigir excelência e depois pagar como amador”.

“É importante que o Governo faça muito mais do que aquilo que fez. Durante todos estes anos, temos insistido na importância de fazer um bom recrutamento, de adequar aquilo que são os salários à realidade da Instituição e das exigências da missão, [nas] compensações e [numa] carreira que tenha perspetiva. Aquilo que tem acontecido é precisamente o contrário. Este menosprezo, esta desvalorização de grande parte do poder político e do Governo têm criado dificuldades”, lamenta Paulo Rodrigues.

Apesar dos obstáculos com que se deparou nos 14 anos em que liderou a maior associação sindical da PSP, que ainda hoje representa mais de 50% dos polícias (cerca de 10.000), o dirigente sindical congratula-se com “algumas conquistas pontuais” alcançadas.

“Nomeadamente [o] aumento do suplemento das forças e serviços de segurança de 14,5% para 20%, [o] aumento do fardamento de 5 para 50 euros, [ou] a questão de voltarmos a conquistar a polícia como corpo especial da Função Pública, algo que tínhamos perdido e que foi, infelizmente, necessário subir a escadaria da Assembleia da República para conquistar esse novo estatuto”, recorda.

Paulo Rodrigues admite que é “muito difícil neste momento fazer grandes conquistas”, revelando que “para se conseguir uma pequena conquista é [preciso] um esforço enorme”.

Esta realidade, assume, “custa bastante” a aceitar por parte da ASPP, pois, Paulo Rodrigues considera que o Governo, além de ter o dever de fazer mais, “devia ouvir mais” o maior sindicato da polícia “e adequar mais as políticas àquilo que são as necessidades dos profissionais que todos os dias andam no terreno” e que são “os menos ouvidos”.

Para o ainda presidente da ASPP, os sucessivos governos “têm desvalorizado muito” as forças de segurança, nomeadamente a PSP, porque não é uma Instituição que, diretamente, crie riqueza.

“[N]outras instituições, sejam ligadas às Finanças ou a outros setores, em que produzem riqueza direta para o Estado, há uma maior sensibilidade para olhar para os problemas desses profissionais e dar resposta às suas necessidades. A polícia é o contrário. A polícia, por norma, não cria riqueza, previne aquilo que é a nossa segurança. Claro que acaba por, indiretamente, promover o país, e tem-no feito, que depois tem alguma influência na economia. Mas a verdade é que o Governo tem desvalorizado completamente estes profissionais”, lamenta.

Outra das razões apontadas para que os governos desvalorizem a PSP, prende-se com o facto de esta força de segurança não poder usufruir do direito à greve.

“Tenho a noção de que se tivéssemos esse instrumento, os governos teriam, com certeza, tido outra postura nas negociações e na forma de tratar os profissionais de polícia”, frisa Paulo Rodrigues, que deixa a ASPP “com a ideia de que o direito à greve começa a ser essencial ou quase crucial para que o Governo tenha atenção, perceba e escute verdadeiramente os profissionais da polícia e os sindicatos”.

Quanto ao surgimento do 'Movimento Zero', o presidente cessante da ASPP considera que nasceu “dos vários erros que os governos e a Direção Nacional da PSP foram cometendo” e da falta de respostas às reivindicações dos sindicatos.

“É importante que o Governo tenha essa consciência, porque não me parece que este movimento, independentemente de ser este ou outros, que não possam aparecer no futuro. Vão aparecer no futuro se os governos continuarem a não dar respostas aos sindicatos, que são os legítimos representantes [dos polícias]”, avisa Paulo Rodrigues.

As eleições na ASPP/PSP estão marcadas para quinta-feira, em que o único candidato é o atual vice-presidente da associação, Paulo Santos.

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