"Não temos qualquer ilusão sobre os objetivos do Governo da Aliança Democrática [PSD e CDS-PP]. Não temos ilusão sobre os únicos interesses que defendem e dos quais estão profundamente dependentes. Não nos deixamos iludir por esta máquina de propaganda nem pelo batalhão de comentadores que dão cobertura aos sucessivos anúncios do Governo", criticou Paulo Raimundo.

O secretário-geral comunista falava num comício do PCP que juntou cerca de duas centenas de pessoas em Almada, distrito de Setúbal, numa intervenção na qual deixou duras críticas ao Governo mas também ao Chega, IL e até ao PS.

"Ainda há poucos dias o ministro dos Assuntos Parlamentares afirmava na Assembleia da República duas frases reveladoras deste mecanismo de propaganda e ilusão: a partir de 01 de junho mais nenhum idoso teve que optar entre medicamentos e alimentação e que agora os jovens têm menos dificuldades em aceder à habitação. Que cada reformado e jovem olhe para si próprio e tire as conclusões entre a propaganda, a realidade e a vida de cada um", argumentou.

Sobre os constrangimentos nos mapas das urgências do país, Paulo Raimundo salientou que o que cada cidadão precisa "não é de um PDF [documento digital] a explicar o que está fechado ou aberto".

"O que nós precisamos é das urgências abertas, com profissionais, para servir as necessidades do nosso povo. O que as mães, e em particular as grávidas, precisam é de saber que quando for necessário, quando chegar a hora que não está na sua mente controlar, que têm o seu hospital, pediatria e serviço de obstetrícia aberto, e não andar à procura num PDF do que está aberto ou fechado. A vida não se compadece com isso", alertou.

Insistindo na necessidade de valorizar os profissionais do setor da saúde, Paulo Raimundo defendeu o mesmo para a área da educação, um dia depois de o Governo liderado por Luís Montenegro ter apresentado um plano que inclui medidas como a contratação de docentes aposentados oferecendo-lhes uma remuneração extra ou pagar mais aos docentes que aceitem adiar a reforma.

"O Governo pode vir agora fazer anúncios, mais promessas, continuando a desrespeitar a questão central. A única forma de valorizar a escola pública é valorizar os seus profissionais. (…) Não é pôr professores com 70 ou 80 anos a dar aulas", sustentou, mostrando-se convicto de que há "milhares e milhares" de pessoas que abandonaram a profissão docente contra a sua vontade e gostariam de regressar.

Aproveitando a presença em Setúbal, Paulo Raimundo avisou que os comunistas não vão permitir que "não se cumpra e não se construa de uma vez por todas o aeroporto em Alcochete", salientando que, por enquanto, a decisão do Governo é apenas "um anúncio".

Numa intervenção de cerca de meia hora, o comunista defendeu que na distribuição de tarefas do atual quadro político a Iniciativa Liberal (IL) é "o ponta de lança ideológico para a liberalização da economia e o ataque aos direitos" e que "o papel de arruaceiro está entregue ao Chega".

Para o PCP, o PS "anima todo este faz de conta" ao "encher o peito supostamente à esquerda, avançando com medidas hoje que tinha chumbado em janeiro", como as portagens ou a descida do IRS.

"Infelizmente não podemos contar com o PS para o combate aos que se acham os donos disto tudo", atirou.

Raimundo insistiu que o PCP "dorme bem com a instabilidade política mas dorme mal com a instabilidade dos trabalhadores".

Depois de ter começado a sua intervenção a enaltecer o facto de o PCP ter conseguido eleger no domingo um eurodeputado, João Oliveira, Raimundo alertou, já no final, que “os tempos são exigentes” e “a tormenta é grande”, pedindo aos militantes “mais um esforço” e mobilização.