Nas declarações políticas que hoje decorrem no parlamento, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, criticou o facto de "daqui a poucas horas o primeiro-ministro israelita", Benjamin Netanyahu, aterrar em Portugal para uma visita que considerou ser, em primeiro lugar, "uma vergonha para o país".

"Benjamin Netanyahu não é só um primeiro-ministro israelita. Corrupto, criminoso de guerra, colonialista, todos os dias atenta contra resoluções das organizações das Nações Unidas e vem cá a Portugal à procura de aliados para a criação de um novo 'apartheid' naquela região para garantir que consegue a anexação final do Vale do Jordão", condenou.

Se "o Reino Unido negou ser o cicerone da reunião de Benjamin Netanyahu com o secretário de Estado norte-americano", na perspetiva do líder parlamentar bloquista, a "pergunta é porque é que Portugal se disponibilizou para esse papel".

"Porque é que lhe dá um carimbo de visita de Estado, vendo a reunião com o primeiro-ministro e com o ministro dos Negócios Estrangeiros? E eu creio que a pergunta que fica do dia de hoje é se o Governo do PS quer reeditar o modelo da triste fotografia da cimeira das Lages?", questionou.

No pedido de esclarecimentos à intervenção do BE, a deputada do PCP Alma Rivera optou por contestar "a vinda do primeiro-ministro israelita a Portugal para a reunião com Mike Pompeo que será dedicada, uma vez mais, à coordenação de ações de destabilização do Médio Oriente".

"Não podemos ignorar a situação escandalosa em que Portugal se prepara para ser, mais uma vez, o cicerone no guião para a guerra como foi com o Iraque", acusou.

Na resposta, além de reiterar as ideias já defendidas, Pedro Filipe Soares considerou esta visita particularmente incompreensível "num momento em que quem está à frente das Nações Unidas é António Guterres".

"Se é assim que se respeita este mandato, o PS terá muito que alinhar internamente para chegar a algum tipo de conclusão. É um erro rotundo até para a forma como Portugal se tem internacionalmente afirmado como um país que defende os direitos humanos e a lei internacional", criticou.

Também André Silva, do PAN, sublinhou também a "concordância com a grande maioria das afirmações" feitas por BE e PCP "quanto às políticas prosseguidas por Israel".

PCP faz comunicado e apela ao protesto

“A presença do Secretário de Estado da Administração Trump e do ainda primeiro-ministro israelita em Portugal são profundamente contrárias ao interesse nacional, aos preceitos constitucionais, aos valores da paz e da cooperação, comprometendo Portugal com as reiteradas violações do direito internacional de que ambos são protagonistas”, defende o PCP em comunicado.

Os comunistas apelam à mobilização em torno das ações de protesto convocadas pelo “movimento da paz e de solidariedade com os povos”, quinta-feira, no Porto, e sexta-feira, em Lisboa, como forma de “todos os democratas, patriotas, amantes da paz” mostrarem que Michael Pompeo e Benjamim Netanyahu “não são bem-vindos a Portugal”.

“Se a decisão de receber o secretário de Estado dos EUA ao mais alto nível já constituía um grave gesto de subordinação do Governo português à política militarista e agressiva dos EUA e da NATO, a agora noticiada decisão de acolher e receber a esse mesmo nível Benjamim Netanyahu constitui uma afronta aos princípios da Constituição da República Portuguesa e está em contradição com sucessivas deliberações da Assembleia da República relativas à questão palestiniana, que condenam a política ilegal de Israel e reiteram os direitos nacionais do povo palestiniano de acordo com as resoluções das Nações Unidas”, argumenta o PCP.

Para o Partido Comunista, “nada obriga o Governo português a dar cobertura a um encontro em Portugal (entre os dois responsáveis] cujo conteúdo é previsível e profundamente negativo, nem a receber Benjamim Netanyahu, tanto mais quando este não está na plenitude das suas funções e se encontra a contas com a justiça”.

“A confirmarem-se tais notícias, o povo português está confrontado com uma situação que, no atual contexto internacional, afeta gravemente o prestígio de Portugal no mundo”, sublinha o partido.

O PCP lembra o recente “bombardeamento e vaga de repressão de Israel contra o povo palestiniano, de que resultaram mais de 30 mortos, de que o principal responsável é o primeiro-ministro Israelita”, assim como recorda as declarações de Pompeo de deixar de considerar ilegais os colonatos israelitas, ao arrepio das Nações Unidas.

O secretário de Estado dos Estados Unidos antecipou uma visita a Lisboa, inicialmente prevista para sexta-feira, onde chega hoje para ter um encontro com o primeiro-ministro de Israel e manter contactos com o Governo português, segundo o Departamento de Estado.

Após marcar presença na cimeira de líderes de dois dias da NATO, que termina hoje em Londres, o chefe da diplomacia norte-americana “irá viajar para Lisboa, Portugal, de 04 [hoje] a 05 [quinta-feira] de dezembro, onde irá encontrar-se com o primeiro-ministro português, António Costa, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva”, refere a informação disponibilizada pelo Departamento de Estado.

Estes encontros com o primeiro-ministro português, António Costa, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, deverão acontecer na quinta-feira.

O Departamento de Estado confirma também que Mike Pompeo irá encontrar-se em Lisboa com o primeiro-ministro de Israel em funções, Benjamin Netanyahu.  O encontro do chefe da diplomacia norte-americana com o líder israelita está previsto para hoje à noite.

Uma visita "inaceitável"

Num comunicado intitulado “Portugal não deve receber o criminoso Benjamin Netanyahu”, o MPPM “condena a deslocação a Portugal” do primeiro-ministro de Israel hoje e quinta-feira, para encontros com o seu homólogo português, António Costa, e o o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.

“É inaceitável que o governo português se preste a acolher o encontro entre Pompeo e Netanyahu (…) Mas é ainda mais grave e motivo de justas inquietações que o primeiro-ministro português se disponha, também ele, a receber Netanyahu”, considera o MPPM.

Netanyahu declarou hoje à partida de Telavive para Lisboa que o encontro com Pompeo se centrará no Irão e no apoio dos Estados Unidos a Israel, nomeadamente o reforço da aliança defensiva com o Estado hebraico e o “futuro reconhecimento norte-americano da aplicação da soberania israelita no vale do Jordão”.

Para o MPPM, isto significa que “a reunião será dedicada à coordenação de ações de desestabilização no Médio Oriente tendo por alvo e pretexto o Irão, como acontece na Síria, e à preparação da anexação de uma parte importante da Cisjordânia, numa nova e gravíssima violação do direito internacional e do direito do povo palestino à autodeterminação e ao seu Estado independente”.

O movimento acusa Netanyahu de ser “pessoalmente responsável pela continuada ocupação dos territórios palestinos, incessantes agressões e crimes de guerra contra a Faixa de Gaza, a repressão brutal do povo palestino, o avanço desenfreado da colonização e da anexação”, bem como de “repetidas violações da soberania e integridade territorial da Síria”, desempenhando “um papel altamente desestabilizador em todo o Médio Oriente”.

“O que tem o governo português a tratar com alguém que, além do cortejo de crimes e ilegalidades, está em mera gestão de assuntos correntes e, que além disso, foi formalmente acusado no seu país por crimes de corrupção?”, questiona o MPPM.

O primeiro-ministro israelita foi recentemente acusado em três casos de corrupção e já falhou por duas vezes este ano a formação de um executivo.

Após legislativas em abril e setembro cujos resultados foram inconclusivos, Israel arrisca um terceiro escrutínio no espaço de um ano para se determinar quem governa o país.

“Irá António Costa aproveitar a ocasião para comunicar a Netanyahu o recente Voto da Assembleia da República, aprovado também pelos deputados do PS, que nomeadamente «Reafirma o caráter ilegal dos colonatos israelitas» e «Reitera o direito do povo palestiniano à constituição de um Estado livre, viável, soberano e independente, com capital em Jerusalém Leste, conforme as resoluções da ONU», questiona ainda o MPPM.

O primeiro-ministro, António Costa, também vai receber em São Bento, na quinta-feira, o seu homólogo israelita.

O encontro do primeiro-ministro israelita com o seu homólogo português, marcado para quinta-feira, terá como tema as relações bilaterais entre Portugal e Israel, disse à Lusa fonte oficial do executivo de António Costa.

[Notícia atualizada às 17:57]