"O PCP é portador de um projeto próprio para o país, assente numa política alternativa, patriótica e de esquerda. Tem como eixos essenciais a afirmação da independência e soberania nacionais, a rejeição da submissão do país a interesses e imposições contrárias, o controlo público de setores estratégicos da economia, a valorização do trabalho e trabalhadores e a renegociação da dívida", resumiu, em conferência de imprensa, na sede comunista.
O eurodeputado comunista respondia assim às declarações de hoje do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em entrevista ao jornal Público e rádio Renascença, considerando que uma nova solução política de acordos com os partidos à esquerda do PS teria de incidir também sobre política externa, nomeadamente em relação à União Europeia (UE).
"Tudo isto são aspetos que identificam esta política alternativa que o PCP propõe ao povo português e o diferenciam de outras forças políticas, nomeadamente do PS que, neste conjunto de aspetos, tem uma conhecida e assumida convergência designadamente com o PSD e com o CDS", continuou João Ferreira, criticando os "prejuízos evidentes para o país" das políticas seguidas até aqui.
João Ferreira condenou ainda, "ao contrário do que o Governo e o Presidente da República têm defendido", a participação de Portugal em missões militares estrangeiras ao serviço da NATO e a decisão da cimeira da Aliança Atlântica, que decorre desde quarta-feira, em Bruxelas, de os 28 parceiros europeus aproximarem as suas contribuições para 2% dos respetivos Produtos Internos Brutos (PIB), após pressão do presidente norte-americano, Donald Trump.
"O PCP defende a dissolução da NATO enquanto bloco militar, que tem consabidamente defendido os interesses de potencias, fundamentalmente dos EUA e suas ambições imperiais, ao serviço de guerras de agressão, operações de desestabilização de extensas áreas do planeta", disse.
Hoje mesmo, após reunião de emergência dos 29 chefes de Estado ou de Governo da NATO na capital belga, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou não acreditar que o anunciado incremento da despesa com a Defesa, dados os compromissos assumidos no âmbito da Aliança Atlântica em 2014, complique as negociações do Orçamento de Estado para 2019 com os partidos à esquerda parlamentar, embora assumindo tratar-se de mais um constrangimento nas decisões do futuro documento em negociação.
"Quando são colocadas tantas dificuldades para corresponder a necessidades que se colocam em funções sociais e nos serviços públicos, nomeadamente na saúde, educação, transportes, cultura, proteção social, valorização de reformas e pensões... o compromisso do Governo de corresponder ao objetivo EUA/NATO de se aproximar dos 2% do PIB em despesa militar não tem justificação razoável", afirmou João Ferreira.
O dirigente comunista condenou que os 29 países membros da Aliança Atlântica já gastem mais em Defesa do que "a soma dos restantes 164 países do mundo" e tenham decidido "aumentar em mais 266 mil milhões de dólares a sua política armamentista e intervencionista".
Costa apresentara "um quadro anualizado" que especifica que Portugal vai consagrar 1,66% do Produto Interno Bruto (PIB) a despesas em Defesa até 2024, podendo os investimentos atingir 1,98% do PIB se o país conseguir obter os fundos comunitários a que se irá candidatar no âmbito do próximo Quadro Financeiro Plurianual da UE para o período 2021-2027, nomeadamente através do Horizonte Europa e do Fundo Europeu de Defesa.
De acordo com os dados publicados na terça-feira pela Aliança Atlântica, Portugal destinou no ano passado 2.398 milhões de euros a despesas em Defesa, o que equivale a 1,24% do seu PIB, devendo este ano aumentar para 2.728 milhões de euros, o equivalente a 1,36% da riqueza nacional.
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