O jornal britânico The Guardian, destacou este domingo a situação no Brasil, partilhando imagens de pessoas à procura de restos de comida, uma repercussão da crise económica e social.

“Fotografias de partir o coração”, é assim que o Guardian descreve as imagens de brasileiros desprovidos de recursos e que procuram alimentos num monte de carcaças de animais, expondo assim a crise que assola a nação mais populosa da América Latina, onde a pandemia e aumento da inflação empurraram pessoas para a pobreza extrema.

As imagens foram captadas no Rio de Janeiro, na semana passada, pelo fotojornalista Domingos Peixoto, numa reportagem do jornal brasileiro Extra , e mostram um grupo de pessoas a procurar restos de carne num camião que tinha transportado “miudezas e ossos descartados” para uma fábrica que faz comida de animais e sabão.

O motorista e o ajudante da empresa doam parte do que foi recolhido todas as terças e quintas. Em declarações ao jornal, o motorista, José Divino Santos, conta que o número pessoas a pedir os ossos e restos tem vindo a aumentar e que antes as pessoas pediam ossos para os cães, mas hoje pedem para consumo próprio.

“Tem dias que chego aqui e tenho vontade de chorar. Um país tão rico não pode estar assim. É muito triste as pessoas passarem por esta situação. O meu coração dói. Antes, as pessoas passavam aqui e pediam um pedaço de osso para dar aos cães. Hoje, imploraram por um pouco de ossada para fazer comida. Duas ou três pessoas em situação de sem abrigo passavam aqui e levavam. Hoje, tem dia que tem umas 15 pessoas”, conta o motorista.

Desempregada, Vanessa Avelino de Souza, 48 anos, desloca-se uma vez por semana ao ponto de distribuição. Separa pele a pele e osso por osso à procura de algo para colocar no saco.

“Limpamos e separamos o resto de carne. Com o osso, fazemos sopa, colocamos no arroz, no feijão... Depois de fritar, guardamos a gordura e usamos para fazer a comida”, explica Vanessa ao jornal.

De acordo com a publicação, estima-se que 19 milhões de brasileiros tenham passado fome desde o início da pandemia que matou quase 600.000 pessoas no país. Os números revelam um aumento de 54% no número de pessoas que sofrem com a escassez de alimentos, em comparação a 2018.

Os números revelam um aumento de 54% no número de pessoas que sofrem com a escassez de alimentos, em comparação a 2018.