"As pessoas não estão com medo. Estão apavoradas. Perguntam se devem sair de casa, veem carros no seu bairro e acham que são suspeitos. Em tantos anos nos Estados Unidos, nunca vi nada igual", disse à Lusa Ana Oliveira, dona de um gabinete de consultoria jurídica em Newark, no estado de Nova Jérsia.
A Aliança de Falantes de Português de Massachusetts (MAPS), uma associação com seis escritórios que apoia sobretudo imigrantes portugueses, brasileiros e cabo-verdianos, diz que tem "notado muita preocupação entre os clientes sobre o que a eleição de Donald Trump poderá representar".
"Nos meses anteriores às eleições, notámos um aumento de cerca de 30% no número de candidaturas à cidadania, aumento que atribuímos, embora sem factos que o comprovem, não só à vontade dos nossos clientes em participar nas eleições, mas também de assegurar os seus direitos e prevenir deportações ou outras sanções que possam vir a ser implementadas", explicou à Lusa o diretor executivo da MAPS, Paulo Pinto.
Após a vitória, Trump anunciou que vai dar prioridade à deportação de até três milhões de imigrantes com histórico criminal, um recuo em relação ao seu discurso de campanha, quando disse que mandaria embora os cerca de 11 milhões que vivem hoje em situação irregular no país.
Um dos motivos de maior preocupação é a promessa de "terminar imediatamente" com as ações executivas de Barack Obama para a imigração, incluindo o DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), uma medida de 2012 que protege da deportação e dá autorização de trabalho a pessoas que foram trazidas para o país ainda em crianças, algo que o Presidente pode fazer sem autorização do Congresso.
"Estas pessoas confiaram no Governo e entregaram todas as suas informações. Sentem-se agora muito vulneráveis. O Governo sabe tudo sobre elas, sabe onde as encontrar, e sabe a informação dos pais. Toda a família está em risco", disse.
Ana Oliveira representa uma família de portugueses cujos pais chegaram aos Estados Unidos com uma criança, agora protegida pelo DACA, e desde então tiveram dois filhos, cidadãos americanos.
"Eles sabem que o Governo tem a sua informação e que estão cá sem documentos. Para eles, e outras tantas famílias como eles, o medo de ser deportado é enorme", acrescentou.
A especialista disse que por agora ainda não se sabe exatamente o que a nova administração irá fazer, e que por isso tem passado os dias "a pedir às pessoas que tenham calma" e entregando uma lista dos passos que devem tomar.
"Devem renovar os passaportes do país de origem e, caso os filhos não tenham, pedi-los. Devem ter algum dinheiro de parte em caso de emergência. Se tiverem família americana, devem pedir que façam o pedido de legalização, para ter algo que possam mostrar em caso de serem chamados por um juiz de imigração", explicou.
A MAPS também prepara uma série de iniciativas para acautelar o futuro destes imigrantes.
"Iremos redobrar o nosso esforço de educação sobre a importância do processo de naturalização, com sessões informativas sobre imigração ao longo do ano, apoio gratuito ao preenchimento dos formulários de candidatura e campanhas de publicidade incentivando a obtenção da cidadania americana", disse Paulo Pinto.
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