No seu primeiro discurso como novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos situa a ambição: o objetivo é ganhar. Ganhar "as regionais, as europeias, as autárquicas e presidenciais, com a certeza de que nas presidenciais o PS apoiará um candidato como há muito tempo não o faz, honrando os melhores Presidentes da República que Portugal já teve, Mário Soares e Jorge Sampaio", disse. Esqueceu-se de mencionar as legislativas de 10 de março, um lapso de arranque para alguém que deixou claro no discurso que a ambição não é menor nestas eleições.
Recorde-se que a última vez que o PS expressou apoio a um candidato às presidenciais foi nas eleições que se realizaram em 23 de janeiro de 2011, em que Cavaco Silva foi reeleito Presidente da República. Nessas eleições, o PS apoiou o histórico socialista Manuel Alegre, que obteve 20% dos votos. Nas presidenciais de 2016 e nas de 2021, que Marcelo Rebelo de Sousa venceu, o PS não manifestou apoio a qualquer candidato.
Pedro Nuno Santos garante que "fará o possível para merecer a confiança" que lhe foi depositada pelos militantes do PS e diz ter um "enorme orgulho por ter feito parte dos três governos liderados por António Costa", a quem quis deixar "uma palavra de reconhecimento e solidariedade".
" [os socialistas] ainda esperam o apelo de Passos Coelho ao voto no PS”
Antes desta palavra solidária, Pedro Nuno Santos lamentou que a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa de dissolver a Assembleia da República e convocar eleições tenha travado o percurso de "uma governação com provas dadas".
E, neste sentido, se "o PSD ainda espera pelo diabo", os socialistas "ainda esperam o apelo de Passos Coelho ao voto no PS”, disse.
Sobre o futuro do PS — "o maior partido português", cuja "história se confunde com a história da democracia e do desenvolvimento de Portugal" —, Pedro Nuno Santos diz que "um partido de contas certas não significa cortes na certa".
Diz ainda que ao longo da sua experiência como governante percebeu "que só erra quem faz, ou tenta fazer, ao contrario daqueles que nada fazem e nada tentam. Esses, posso garantir-vos que nunca erram, nunca aprendem, nunca progridem".
"Parar, recuar, desfazer será sempre mais fácil do que avançar", defendeu Pedro Nuno Santos, numa crítica à oposição que, usando o exemplo da ferrovia, só se pode queixar hoje dos atrasos nas obras "porque há obra em curso".
Já na habitação, o secretário-geral do PS acusa o PSD e o Chega de "não terem soluções". "A direita é sempre igual, primeiro desregula e, quando as coisas correm mal, atira as culpas para a esquerda e depois quer o Estado a subsidiar o privado".
Seguiu-se a TAP que, lamentou, "continua a ser usada como arma de arremesso por quem, ao dia de hoje, continua sem assumir com clareza o que teria feito em 2020".
"O capítulo escrito pelos governos socialistas liderados por António Costa encerra-se agora"
"Nesse ano abateu-se sobre o mundo uma pandemia com consequências desastrosas. A TAP era um empresa com gestão privada que vinha de dois anos com 200 milhões de resultados negativos acumulados e que, de um momento para o outro, viu os seus aviões parados. Ou era intervencionada ou encerrava. Tão simples como isto", defendeu.
Hoje, destaca, "a empresa está a dar lucro", o que considera ser "prova objetiva" da intervenção realizada à data. "Não escondo o orgulho de deixar a TAP a dar lucro, assim como a CP. As empresas públicas não estão condenadas a ser deficitárias", concluiu.
Para Pedro Nuno Santos é este "sucesso" que incomoda a direita, a quem interessa um discurso que defende que tudo deve ser privado. "O que a direita não diz é que o Estado mínimo não funciona para a maioria esmagadora das pessoas. O Estado mínimo só funciona para uma absoluta minoria, os privilegiados, os que não precisam dos serviços públicos para nada", defendeu.
E agora? "O capítulo escrito pelos governos socialistas liderados por António Costa encerra-se agora, outro se iniciará a 10 de março". Um capítulo a que o PS se apresenta "com a confiança de que existe reconhecimento dos portugueses pelo trabalho que foi feito e na capacidade do PS para desenvolver o que falta fazer".
Pedro Nuno Santos apontou então baterias à Aliança Democrática, a coligação pré-eleitoral para as legislativas liderada pelo PSD e que integra o CDS e o PPM.
"Não é uma recauchutada AD, criada à pressão, que pode esconder o estado em que está o seu principal parceiro, o PSD. A verdade é que ninguém conhece o seu projeto para o país", diz Pedro Nuno Santos, que acusa Luís Motenegro de um "vazio de projeto" e um "vazio de liderança, visão, credibilidade, experiência e decisão".
E lembra, "a política tem horror ao vazio", colocando no PSD a responsabilidade pelo surgimento de IL e Chega, "ambos filhos da austeridade de Passos Coelho". O primeiro "esconde um projeto radical" de alteração da vida coletiva, assente no "individualismo radical", defende. O Chega, por sua vez, "já defendeu tudo e o seu contrário", mas "o seu manifesto ainda defende que o Chega irá reduzir drasticamente o Estado, colocando dentro dos estreitos limites que o liberalismo clássico deste sempre lhe traçou" e, nota, nesse liberalismo "não há segurança social, não há SNS, não há direito do trabalho". "A verdade é que o Chega não tem projeto sério para o país", acusa Pedro Nuno Santos, para quem o partido se quer "alimentar" de medos.
"Sabemos bem o que fizemos e se temos motivos para estar orgulhosos do trabalho feito nos últimos oito anos, também sabemos assumir com humildade que nem tudo foi bem feito, e que há trabalho pela frente", continuou Pedro Nuno Santos. "Temos trabalho para fazer, problemas para resolver, sabemos é que é o PS quem está em melhor condições para os continuar a resolver", defendeu.
"É com todos os portugueses que tenciono abrir um novo ciclo no país e garantir as respostas para os problemas que o país inteiro enfrenta, e pelos quais não pode esperar mais tempo", disse Pedro Nuno Santos, prometendo apontar as prioridades do PS e avançar já com medidas concretas no discurso de encerramento do 24.ª congresso nacional, que terá lugar amanhã.
Pedro Nuno Santos venceu com 61% dos votos as eleições diretas internas de 15 e 16 de dezembro, enquanto José Luís Carneiro teve 37% e Daniel Adrião 1% dos votos. Para este Congresso, a candidatura do novo secretário-geral elegeu quase 70% dos cerca de 1.400 delegados.
Este processo eleitoral no PS foi aberto com a demissão de António Costa do cargo primeiro-ministro, em 07 de novembro, após ter sido tornado público que era alvo de um inquérito judicial instaurado pelo Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça a partir da Operação Influencer.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aceitou de imediato a demissão do primeiro-ministro e dois dias depois anunciou ao país a dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas antecipadas para 10 de março.
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