A presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), Nádia Piazza, afirmou à agência Lusa que a AM de segunda-feira foi "uma oportunidade perdida" por parte do executivo para esclarecer as questões associadas às suspeitas de irregularidades na reconstrução das habitações afetadas pelo grande incêndio de junho de 2017.
"Senti que fui induzida em erro. Tínhamos dirigido uma carta à Câmara Municipal a pedir esclarecimentos e, em resposta, a Câmara convidou-nos para ir à Assembleia Municipal, que lá seriam esclarecidas as dúvidas", conta, salientando que a expectativa era de que fosse explicado ou exposto caso a caso, mas não foram dados quaisquer esclarecimentos sobre os casos suspeitos.
No local, a agência Lusa pôde constatar algum desânimo das pessoas que assistiam à AM relativamente ao facto de não ter sido dada uma explicação sobre os casos que tinham vindo a público, com uma jovem a mostrar a sua frustração, no período de intervenção do público, frisando que se sentia "muito pouco esclarecida como pedroguense".
"Aquilo que nos foi dado da comunicação social foram casos de pessoas e de famílias. Não ouvi aqui nenhum caso", afirmou.
Para Nádia Piazza, "a postura dos órgãos ficou muito aquém daquilo que eram as expectativas de todos", criticando ainda o facto de o presidente da Câmara Municipal continuar a negar "a pés juntos" que haja irregularidades.
"As pessoas ficaram na mesma, a saber o mesmo", frisou a presidente da AVIPG, que na sequência da reportagem da TVI tinha enviado uma carta à Câmara Municipal a pedir esclarecimentos e uma outra à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) a pedir acesso à documentação e propostas para garantir uma maior transparência no processo.
Nessa carta à CCDRC, a associação sugere a publicação das listas das casas de primeira habitação que foram apoiadas e o retorno do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana ao processo, entre outras propostas.
Na segunda-feira, o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, voltou a frisar que todas as casas reconstruídas são de primeira habitação e que não há nenhuma ilegalidade.
Apesar dessas afirmações, admitiu aos jornalistas que não consultou nenhum dos processos de reconstrução: "Eu confio nas pessoas que processaram todos os processos e elaboraram os processos", disse, no final da AM.
A Visão e TVI denunciaram ao longo das últimas semanas alegadas fraudes na atribuição de subsídios para a reconstrução das casas destruídas pelos incêndios.
O grande incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017, em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, e que alastrou depois a concelhos vizinhos, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, tendo destruído cerca de 500 casas, 261 das quais eram habitações permanentes, e 50 empresas.
Em junho, eram 10 os arguidos, todos pessoas singulares, no inquérito relacionado com os incêndios de Pedrógão Grande, de acordo com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra.
Comentários