Das 252 crianças com sintomas de perturbação psicológica na sequência do grande incêndio de junho de 2017, 139 apresentam sinais de stress pós-traumático, o que representa cerca de 8% do universo global das crianças entrevistadas, revela o rastreio realizado no âmbito do "Pinhal do Futuro".
O projeto é desenvolvido pela EPIS - Associação Empresários Pela Inclusão Social, em parceria com o Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Universidade de Coimbra.
Nas crianças que apresentam sintomas de perturbação psicológica, registam-se também 51 alunos com sintomas de perturbação de adaptação, 57 com ansiedade de separação (dificuldade em ir à escola ou em dormir sozinho) e cinco com processos de luto complicado.
Segundo a docente da Universidade de Coimbra Cristina Canavarro, que coordena o projeto no terreno e que falou hoje durante a apresentação dos dados, em Castanheira de Pera (distrito de Leiria), "esta classificação é feita tendo em conta o diagnóstico principal”, pelo que não significa que não haja um aluno que tenha, ao mesmo tempo, mais do que um dos sintomas.
As perturbações nos jovens da região incluem sintomas como medo, evitamento de estímulos que recordem o acontecimento, dificuldade em regular emoções, problemas de sono, depressão, pânico ou disrupção comportamental, entre outros.
Segundo os dados preliminares do estudo, além das 252 crianças com sintomas de perturbação psicológica e que necessitam de acompanhamento, foram identificados 192 crianças ou jovens com outros sintomas, mas com menor intensidade, nomeadamente a quebra de rendimento escolar, hiperatividade ou sintomas regressivos.
Nas entrevistas para o estudo, do 1.º ao 2.º ciclo as crianças eram acompanhadas pelos pais, sendo a amostra, de momento, de 1.758 alunos.
A amostra conta com alunos dos concelhos da Sertã, Castanheira de Pera, Góis, Pedrógão Grande, Pampilhosa da Serra e Figueiró dos Vinhos.
Desde abril, estão a ser realizadas entrevistas clínicas estruturadas junto dos 252 alunos que necessitam de acompanhamento, sendo criados planos de intervenção clínica para cada uma das crianças ou jovens.
Cristina Canavarro realçou que os dados eram expectáveis, estando ligeiramente abaixo dos resultados obtidos noutros países afetados por grandes incêndios, como os Estados Unidos da América ou a Austrália.
"A rápida movimentação, quer dos serviços públicos, quer dos municípios ou instituições que alocaram profissionais no terreno, contribuiu para fazer descer alguns destes valores", realçou a coordenadora do projeto.
O incêndio que deflagrou há um ano em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), em 17 de junho, e alastrou a concelhos vizinhos provocou 66 mortos e cerca de 250 feridos.
As chamas, extintas uma semana depois, destruíram meio milhar de casas, 261 das quais habitações permanentes, e 50 empresas.
Em outubro, os incêndios rurais que atingiram a região Centro fizeram 50 mortes, a que se somam outras cinco registadas noutros fogos, elevando para 121 o número total de mortos em 2017.
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