Numa visita à zona afetada pelas chamas, é possível observar casas ardidas onde o único sinal de intervenção são as lonas de proteção onde antes estavam telhados, que arderam ou colapsaram.
No entanto, algumas pequenas obras em casas afetadas pelas chamas já arrancaram, como é o caso de uma habitação no Vale da Nogueira, cuja intervenção, por ser até cinco mil euros, permitiu uma maior celeridade do processo.
Ali, a empresa de construção civil de João Antunes, sediada em Pobrais, Pedrógão Grande, removeu portas e janelas que ficaram queimadas, substituíram por outras e pintaram as paredes, que estavam enegrecidas pelo fumo e fogo que entrou dentro da casa.
A proprietária está, por enquanto, em casa do filho, mas com “mais uma semana de trabalho” já deverá ser possível regressar à sua casa, explicou o construtor civil.
Durante as últimas semanas, João Antunes tem recebido muitos pedidos de orçamento na zona das freguesias da Graça e de Vila Facaia.
Para além da intervenção no Vale da Nogueira, tem casos de habitações cujas obras serão “abrangidas pelos seguros que já deram ordem para começar”, mas também há proprietários que estão só “à espera da luz verde” do apoio através do fundo Revita, para se poder avançar com a reconstrução.
“Precisávamos de mais mão-de-obra para combater esta situação”, notou o empresário, que até já fez um apelo nas redes sociais a pedir pedreiros para ajudar nas obras.
Pedro Costa, responsável de outra empresa de construção civil de Pedrógão Grande, com dez trabalhadores, arrancou na quarta-feira pequenos trabalhos de reabilitação numa casa perto de Vila Facaia, desta feita no âmbito de uma parceria com a Mota Engil, que se predispôs a garantir a reconstrução de duas casas afetadas pelo incêndio.
“Penso que não vamos ter mão-de-obra que chegue para fazer a requalificação destas aldeias”, disse, considerando que “vai haver muito trabalho nos próximos meses”, visto que há muitas “casas a precisar de reconstrução total”.
Da casa de Manuel Luís, na Coelheira, Figueiró dos Vinhos, só escapou um anexo, onde tem a cozinha e uma casa de banho. Tudo o resto ardeu.
De improviso, colocou uma “camita” à beira da lareira da cozinha e é lá que tem vivido à espera da reabilitação da sua casa, que neste caso será assegurada pela Misericórdia de Lisboa.
Pelo quintal, já anda uma máquina a fazer limpeza e vê-se um monte de tijolos partidos – restos da casa onde viveu toda a sua vida.
O quintal – o seu trabalho – desapareceu: “as batatas, feijão couve, pingo de azeite, vinho, foi tudo”, conta.
Olhar para casa onde só se veem cacos e coisas queimadas “dá um bocado de tristeza”, mas ver os trabalhos de limpeza a começar já dá “outro ânimo”, salientou.
No entanto, é difícil olhar para o futuro com alguma confiança.
“Não tenho de onde ele venha. Só se fizer alguma coisa por mim”, realça Manuel Luís, de 63 anos.
Alzira Quevedo foi a única habitante da Barraca da Boavista, na freguesia da Vila Facaia, a perder a casa.
“Perdi tudo. Fiquei com a roupa do corpo. Hortaliça, gatos, cães, coelhos, galinhas, pitos, ficou lá tudo carbonizado”, lamenta a mulher de 76 anos, que por agora faz-se valer da ajuda da “prima de uma prima”, que deu casa à habitante da Barraca da Boavista e ao seu marido.
“Aqui estamos assim. No resto da nossa vida, que devíamos ter um ‘aconchegozinho’ – estrebuchámos para isso – vimo-nos sem nada, desamparados. Temos muita gente amiga, é verdade, mas não tenho o que mais falta me faz, que é a minha casa e o meu carro”, sublinha Alzira, que até agora não recebeu qualquer pessoa a informá-la de como vai decorrer a reconstrução da sua casa.
A um primo seu já lhe disseram “que tinha de ser uma casa nova”, mas nunca mais soube de nada, frisa.
“Não sei quando começam, se começam, não sei de nada. Ainda ninguém veio ter comigo dizer que é assim, desta maneira ou daquela. Nada. Está tudo parado”, afirmou à agência Lusa Alzira Quevedo, sublinhando que o casal já reformado não tem possibilidades de pagar a reconstrução, que “algum tostãozito” que tinham “lá ardeu”.
“Da minha idade, o meu futuro já vai ser muito escuro. Os mais novos já têm outra atividade, mas a gente começa a desmoralizar com isto, muito, muito. Mas há de ser o que Deus quiser, não é?”, disse Alzira.
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