Perante um Santuário repleto de peregrinos, D. José Ornelas começou por apontar, na sua homilia, que as leituras ouvidas esta noite trazem "consolação, segurança e esperança, a partir de Maria, Mãe e modelo da Igreja", mas também o desafio "a seguir e assumir a sua atitude de disponibilidade a Deus e de dedicação atenta e terna para cuidar de quem mais precisa".
Neste sentido, o bispo de Leiria-Fátima lembrou a atitude de Maria enquanto "'serva do Senhor', para realizar a missão que Ele lhe confia: a missão de ser a mãe de Jesus".
"Será a missão natural de cada mulher, de levá-lo no seu ventre materno durante nove meses; de O dar à luz em condições precárias de uma deslocada, refugiada; de amamentá-lo, acarinhá-lo e cuidar dele; de defendê-lo dos inimigos e da violência que se abate sobre as crianças pelo déspota Herodes; de estar a seu lado quando é caluniado, contestado, agredido…", enumera.
Assim, junto à cruz de Jesus, "Maria surge com uma maternidade que acompanha sempre aqueles que gera e se faz presente sobretudo nos momentos de sofrimento e de crise".
Remetendo para a atualidade, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa frisou que "a Igreja renova-se precisamente quando, a exemplo de Jesus e unida a Ele, partilha a condição de sofrimento, para partilhar igualmente o carinho e a força transformadora de Deus".
"Esta atitude de Maria replica-se em cada mãe, ao longo da história, em cada família, em cada situação. Esta é, concretamente, a atitude das mães ucranianas, muitas das quais se encontram no nosso país, para proteger as suas crianças. Uma delas dizia-me: 'choramos de noite e sorrimos de dia, para dar força aos nossos filhos e filhas'", contou D. José Ornelas.
E continuou com exemplos do dia a dia. "Quantas outras mães, neste momento, vivem dramas semelhantes, em situações de guerra, de miséria, de penúria. Muitas, como Maria estão junto das cruzes em que morrem as suas crianças, pela fome, a miséria, os desastres, o terrorismo, a guerra, os abusos de menores".
"Como diz uma nossa poetiza [Sofia de Mello Breiner], 'vemos, ouvimos e lemos… não podemos ignorar'. Esta é a atitude que Maria nos imprime hoje no coração e na vida. Esta tem de ser também a atitude da Igreja, que invoca Maria como sua Mãe. Como Igreja, temos de estar na linha da frente de estarmos atentos, da proteção, da proximidade a todas as fragilidades. Essa é a nossa missão, nascida e modelada pelo amor paterno/materno de Deus presente em Maria, Mãe e Modelo do agir verdadeiramente humano", acrescentou o presidente da celebração.
Lembrando que "esta atitude tem de caraterizar particularmente este Santuário de Fátima", D. José Ornelas referiu que "cuidar das fragilidades humanas, particularmente no início e no fim da vida, é continuar a solicitude de Maria para com os pastorinhos, as vítimas da guerra, os pecadores".
"Hoje são tantas as situações que precisam desta atitude ativa de atenção e compromisso por uma terra sustentável na sua fragilidade. Particularmente as crianças e os mais jovens têm de ser motivo de um olhar atento", disse.
"É nesse sentido que todos nos esforçamos por mudar atitudes e procedimentos, na Igreja e na sociedade, a fim de que as crianças e aqueles que se encontram em situações de fragilidade não sejam esquecidos ou, pior ainda, abusados e explorados, mas possam encontrar corações e atitudes maternas e fortes como as de Maria, que protegem, amparam e lutam, para que este mundo possa oferecer condições de justiça e de dignidade para todos", rematou.
Milhares de fiéis nesta peregrinação
Depois de um grande número de peregrinos em maio, junho (Peregrinação das Crianças), agosto e setembro (Peregrinação de Motociclistas) era esperada uma significativa presença de devotos nas cerimónias que, como sublinha uma nota do Santuário, "encerram as grandes peregrinações do primeiro ano pós-pandemia, e com uma guerra em curso no coração da Europa, que esteve sempre presente nas orações de Fátima".
Esta tarde, o reitor do Santuário referiu que “até final de setembro foram 2.133 os grupos de peregrinos” registados no Santuário, 1.340 dos quais estrangeiros, o que significa um aumento de mais de um milhar de grupos em relação a todo o ano de 2021.
“Outubro é para os estrangeiros o mês de maior presença no Santuário”, adiantou Carlos Cabecinhas, apontando Espanha, Polónia e Itália como os três países com maior presença na Cova da Iria.
Já os grupos asiáticos registam, ainda, “números longe dos registados no período pré-pandemia”.
A peregrinação de outubro assinala a sexta aparição da Virgem aos videntes Jacinta, Francisco e Lúcia, "com particular destaque para o chamado 'milagre do Sol' e terá como tema 'Levanta-te! És testemunha do que viste', que se insere na dinâmica preparatória da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa", agendada para o período de 1 e 6 de agosto do próximo ano.
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