Na sexta-feira, uma ponte — Fern Hollow Bridge desabou em Pittsburgh, cidade americana para onde o presidente Joe Biden se dirigia para falar sobre os seus grandes projetos de infraestruturas. O acidente provocou 10 feridos ligeiros e no aparato foram apanhados quatro veículos, entre eles um autocarro — que já foram retirados do local. A investigação começou de imediato.

Inês Sines é portuguesa e mora a cinco minutos da ponte. Como trabalha no Carnegie Museum of Art, faz a travessia todos os dias, de autocarro, para lá e para cá. Cerca de 20 minutos de viagem.

Ontem, soube às 8 horas da manhã que a ponte tinha caído. Conta ao SAPO24 que ao entrar no autocarro ouviu as seguintes palavras por parte do motorista: "Good morning, today we have a major detour because the bridge collapsed" ["Bom dia, hoje temos de fazer um grande desvio porque a ponte desmoronou"].

Inês viajou em plena hora de ponta — que se verifica entre as 7h30 e as 8h30 —, a ponte caiu às 6h39. À CNN, o vereador da cidade de Pittsburgh, Corey O'Connor, disse que foi uma sorte o colapso não ter acontecido mais tarde, quando provavelmente haveria muito mais tráfego no local.

"Se isto tivesse ocorrido uma hora depois... Esta é uma estrada que recebe cerca de 15.000 carros por dia, e se fosse hora de ponta estaríamos a olhar para algumas centenas de carros naquele vale", disse. “Tivemos muita, muita sorte", notou.

Mas façamos um retrato da cidade e do debate em torno deste tipo de infraestruturas nos Estados Unidos. Passam por Pittsburgh três rios, o que leva à existência de diversas pontes, muitas delas a precisar de obras. Os democratas querem fazer passar uma lei sobre que irá ajudar a fazer e pagar estas obras, mas os republicanos têm chumbado o projeto. Numa visita ao local do colapso, Joe Biden assumiu que "há 43.000 [pontes] em todo o país" em más condições.

Fern Hollow Bridge é antiga (foi construída em 1970) e passam por lá todos os dias muitos carros, autocarros, bicicletas e pessoas a fazer caminhadas. Além dos anos e do movimento, a neve e o gelo que ontem pesavam sobre a estrutura, o que pode ter acelerado a queda.

Todavia, a "sorte" do acidente pautou-se também pelas características do local: a ponte não é muito alta e por baixo passa apenas um riacho, pelo que dificilmente poderia ter apanhado pessoas ou carros. Mesmo assim, as autoridades analisaram essa hipótese.

As condições da ponte já estavam sinalizadas há anos: entre 2011 e 2017, teve "poor" nos ratings das inspeções, de acordo com o Departamento de Transportes da Pensilvânia — portanto, uma má classificação. Mas o mayor de Pittsburgh, o democrata Ed Gainey, afirmou ontem que a última inspeção ao local ocorreu em setembro de 2021 e, por sua vez, os bombeiros no local frisaram que a ponte não era uma preocupação para as autoridades da cidade, pelo que o sucedido apanhou todos de surpresa.

Num comunicado, o democrata John Fetterman, vice-governador da Pensilvânia, disse que o colapso de sexta-feira foi "apenas o mais recente de uma longa linha de desastres evitáveis, causados ​​pelo homem, que provam o que muitos de nós na Pensilvânia dizem há anos: a nossa infraestrutura está a falhar com o nosso povo".

Questionado no local do colapso sobre a coincidência da visita de Biden à cidade, Fetterman frisou que "esta é uma maneira horrível de enfatizar o quão críticas são as necessidades de infraestruturas neste país".

Agora, resta recuperar o que caiu. Para já, refere-se que a conclusão das obras está prevista para daqui a 12 a 18 meses, ou seja, deverá estar operacional, no máximo, no espaço de ano e meio.