A SUCHO é uma “grande rede de voluntários internacionais, mobilizada por um grupo de profissionais do património, [que] reagiu às ameaças ao património em consequência da invasão brutal da Ucrânia pela Rússia e começou o seu trabalho nos primeiros dias da guerra, utilizando as ferramentas digitais existentes”, justifica em nota a organização Europa Nostra.
“Estes voluntários ajudaram a garantir que uma enorme quantidade de bens patrimoniais ucranianos pudesse ser salvaguardada. Também fizeram esforços significativos para digitalizar coleções em risco”, acrescenta a organização, sustentando a atribuição do prémio.
O Grande Prémio Europa Nostra, em cada uma das cinco categorias, tem o valor pecuniário de 10.000 euros.
O Grande Prémio na área de Conservação e Reutilização Adaptativa foi entregue ex-aequo à recuperação dos Jardins Reais, em Veneza, no nordeste de Itália, e à da Ponte Deba, em Guipúscoa, na região autónoma espanhola do País Basco.
No mesmo documento a organização europeia do património alerta que “a cidade de Veneza, Património Mundial, enfrenta muitos desafios e ameaças” e a recuperação e restauro cuidadosos destes jardins da era napoleónica (século XIX) destacam-se como “um exemplo brilhante de como cuidar do património da cidade de uma forma que responda com precisão às suas necessidades mais prementes”.
“Considerações especiais sobre a atual crise climática foram integradas na conceção das intervenções, tornando esta iniciativa um exemplo inspirador para qualquer cidade que sofra os efeitos das alterações climáticas”, salienta a Europa Nostra.
Sobre a Ponte de Deba, a Europa Nostra refere “a complexa reabilitação desta ponte de pedra do século XIX [que] apresentou um desafio técnico muito difícil”, tendo “a equipa de conservação realizado pesquisas cuidadosas para preservar a integridade da ponte, demonstrando um notável sentido de responsabilidade em manter a autenticidade da construção”.
“A intervenção revelou novos conhecimentos para completar o projeto e estabeleceu um padrão para futuros projetos semelhantes”, realça a organização.
A estrutura para integração profissional e qualificação de desempregados “Acta Vista”, em Marselha, no sul de França, venceu o Grande Prémio na categoria Educação, Formação Profissional e Capacitação.
A “Acta Vista”, refere a Europa Nostra, é “um exemplo convincente de como o património cultural pode capacitar pessoas que foram excluídas do emprego de uma forma impactante e demonstra que o restauro do património pode servir como caminho para a inclusão radical e que o património tem uma capacidade regenerativa”.
Na área de na Envolvimento e Sensibilização dos Cidadãos, o grande vencedor foi o Museu de Literatura da Irlanda (MoLI), em Dublin, pelo “sucesso notável em chegar aos amantes da literatura e ao público não tradicional e na sensibilização para a rica herança literária da Irlanda, através de um programa excecional de eventos”.
“O MoLI atraiu e manteve um público diversificado e multigeracional, também graças às potencialidades oferecidas pela transformação digital”, prossegue a Europa Nostra.
O Prémio Escolha do Público, igualmente no valor de 10.000 euros, foi para a Via Transilvânica, na Roménia, “um projeto notável que estabeleceu o percurso pedestre mais longo da Roménia, abrangendo mais de 1.400 quilómetros e ligando 12 locais classificados como Património Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)”, explica a organização.
Esta iniciativa apresentou-se na categoria Envolvimento e Sensibilização dos Cidadãos e obteve “o maior número” de escolhas, “através de uma votação ‘online’ com a participação de cerca de 27.000 cidadãos de toda a Europa”.
Estes projetos, galardoados com o Grande Prémio Europa Nostra, provêm de um conjunto de 30 de 21 países, este ano já distinguidos pela organização não-governamental com os Prémios Europeus do Património Cultural Europa Nostra, anunciados em junho, e que esta noite receberam o prémio respetivo em Veneza.
Esta lista inicial de vencedores incluía os tetos Mudéjares da Sé Catedral do Funchal, a salvaguarda da técnica de pesca artesanal “Arte-Xávega” e o Projeto Almada, assim como o percurso do arqueólogo Cláudio Torres.
A cerimónia de entrega dos Prémios do Património Europeu teve hoje lugar no Palácio do Cinema, em Veneza, com a presença da meio-soprano Cecilia Bartoli, que sucedeu ao tenor Plácido Domingo na presidência da Europa Nostra.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, felicitou os vencedores através de uma mensagem em vídeo.
A cerimónia, decorreu em paralelo com a Cimeira do Património Cultural Europeu, que se realiza na cidade italiana até sábado.
“Que alegria é estar em Veneza nesta noite de celebração dos vencedores dos Prémios do Património Europeu/Prémios Europa Nostra. Todos os anos, os nossos vencedores trazem esperança e inspiração para todos nós. A variedade em termos de conteúdo e abrangência geográfica dos projetos, o seu alcance e natureza individual refletem perfeitamente a riqueza e a diversidade da nossa cultura. As pessoas que se dedicam de coração e com energia a estes projetos são embaixadores convincentes de como salvaguardar, restaurar e melhorar o património cultural da Europa”, disse Cecília Bartoli que felicitou os vencedores.
A Europa Nostra celebra este ano o seu 60.º aniversário, tendo sido criada em 1963, e é uma federação pan-europeia de organizações não-governamentais ligadas ao património, apoiada por uma rede de organismos públicos, empresas privadas e indivíduos, abrangendo mais de 40 países. Mantém relações próximas com a União Europeia, o Conselho da Europa, a UNESCO e outros organismos internacionais.
A Europa Nostra faz campanhas para salvar os monumentos, locais e paisagens ameaçados da Europa, em particular através do Programa d’”Os Sete Sítios Mais Ameaçados”.
Desde o passado dia 01 de maio, a Europa Nostra lidera o consórcio europeu selecionado pela Comissão Europeia para executar o projeto-piloto do Centro do Património Europeu, sendo também parceiro oficial da iniciativa “New European Bauhaus”, desenvolvida pela Comissão Europeia, e é copresidente regional para a Europa da Rede do Património Climático.
Comentários