Apesar de alguns indicadores permitirem observar “uma certa melhoria” nos números da pobreza e da exclusão social, esta “ainda não é sentida no terreno”, disse à agência Lusa a diretora executiva da EAPN-Portugal, na véspera de se assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
“As pessoas que vivem no limiar da pobreza continuam a viver numa situação de grande privação e para nós continua a ser absolutamente fundamental (…) criar uma consciência coletiva em torno do problema da pobreza no nosso país, que continua a ser um grande desafio”, defendeu Sandra Araújo.
Isto porque "não se trata apenas de um problema conjuntural, é um problema extenso e estrutural” que exige uma “elevada prioridade em qualquer programa governativo”.
Este é o apelo que a rede vai fazer no VIII Fórum Nacional de Combate à Pobreza e Exclusão Social da EAPN-Portugal, que decorre na terça-feira na Assembleia da República e onde estará presente o presidente da AR e os partidos políticos com assento parlamentar.
“Não estamos sozinhos, temos um grupo de parceiros com os quais estamos a trabalhar para que Portugal tenha uma estratégia nacional de erradicação da pobreza” assente num trabalho de coordenação ao nível de todas as políticas públicas, explicou.
Sandra Araújo adiantou que é este debate que a rede pretende levar “para dentro da assembleia no sentido de criar algum consenso sobre a prioridade política do combate à pobreza em Portugal e, por outro lado, perceber de que forma é que a sociedade civil e as instâncias políticas decisoras podem desenhar e construir esta estratégia nacional”.
No debate irão participar pessoas “vítimas desta injustiça social” e que são “uma voz muito ativa e muito importante” na solução do problema da pobreza.
Para o presidente da EAPN-Portugal, Jardim Moreira, “a pobreza não é mais do que a expressão de um sistema injusto de distribuição de riqueza”.
Na sua opinião, um dos obstáculos para resolver o problema de dois milhões de portugueses é as “ideologias dos partidos”.
“Vejo que neste momento não encontramos flexibilidade no Parlamento para encontrar um programa nacional de combate à pobreza porque cada um quer propor a sua ideologia como sendo a solução ideal”, lamentou o padre Jardim Moreira.
O responsável exemplificou que as ideologias que estão na defesa do trabalhador reduzem a luta contra a pobreza ao emprego.
“É verdade que o emprego é uma das molas reais para todos poderem ganhar, mas não basta” para resolver o problema, disse, sublinhando que há muitas pessoas que estão empregadas e são pobres.
“Neste momento há um esgrimir de razões que depois se sobrepõem às possibilidades de possibilitar as pessoas de serem elas próprias a capacitar-se para poder transformar as suas vidas e não estar apenas à espera do poder central”, frisou.
Nesse sentido, lembrou a “todos os responsáveis partidários” que “as ideologias devem estar ao serviço do bem comum e não o contrário”.
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