Responsáveis da polícia de Hong Kong, citados pelo jornal South China Morning Post, dizem que o uso de balas reais, que atingiram um jovem manifestantes no peito, foi proporcional ao nível de agressão que eclodiu em várias ruas da cidade e aconteceu em autodefesa, no dia em que se celebram os 70 anos do regime do Partido Comunista Chinês.
Ao longo do dia, os manifestantes antigovernamentais bloquearam estradas, incendiaram veículos, vandalizaram lojas, destruíram escritórios governamentais e arremessaram bombas de fogo e pedras contra a polícia, que reagiu com uma atitude de firmeza, em confrontos que provocaram dezenas de feridos e centenas de detenções.
A polícia, com mais de seis mil efetivos nas ruas, reagiu com gás lacrimogéneo e canhões de água, formando linhas defensivas em diversos bairros, e recorrendo, pela primeira vez desde o início das contestações, a balas reais, tendo uma delas atingido um manifestante, que foi hospitalizado com uma bala no peito.
“A resposta da polícia foi proporcional ao nível de agressão usado pelos manifestantes”, disse uma fonte policial citada pelo jornal South China Morning Post.
A mesma fonte disse que os polícias apenas recorreram a balas reais, quando a integridade física das autoridades ou dos cidadãos estava em risco.
Segundo o jornal, a superintendente Yolanda Yu Hoi-kwan usou a sua conta pessoal da rede social Facebook para explicar que a polícia apenas usou violência por razões de segurança.
“Por volta das 16:00, um grande grupo de manifestantes atacou polícias perto da estrada Tai Ho e prosseguiram com o ataque até as autoridades os avisarem para parar. Como um dos polícias sentiu que a sua vida estava sob séria ameaça, ele disparou contra o agressor para salvar a sua própria vida e a vida dos seus colegas “, disse a superintendente, numa declaração citada pelo jornal.
A última vez que as manifestações tinham atingido um grau semelhante de violência foi em 05 de agosto, quando as autoridades reconheceram ter utilizado gás lacrimogéneo e balas de borracha, anunciando, no final, a detenção de 149 pessoas.
Em reação aos acontecimentos de hoje, vários países e organizações, incluindo o Reino Unido e a União Europeia, apelaram à contenção das partes e ao recurso ao diálogo, para estancar a onda de violência que hoje atingiu novos patamares, depois de vários meses de manifestações pró-democracia.
Apesar de a polícia ter proibido manifestações no dia nacional da China, multiplicaram-se os apelos para que a população de Hong Kong saísse de novo à rua para exigir reformas democráticas no território.
O Governo de Hong Kong retirou já formalmente a polémica proposta de emendas à lei da extradição, na base da contestação social desde o início de junho.
Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência da soberania de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”.
Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial chinesa foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.
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