A polícia divulgou um comunicado sustentando que "existem provas suficientes contra o primeiro-ministro para acusá-lo de receber subornos, fraude e abuso de confiança".

Em causa estão as suspeitas do recebimento de subornos de vários empresários e um alegado favorecimento ao dono de um jornal israelita para limitar a concorrência em troca de notícias positivas para o executivo.

A recomendação, que surge ao fim de dois anos de inquérito, precisa de uma decisão oficial para avançar com o processo, ficando agora nas mãos do procurador-geral Avishaï Mandelblit, e pode demorar várias semanas.

Na primeira investigação, "Caso 1000", Netanyahu e a mulher, Sara, são suspeitos de terem aceitado subornos (charutos, joalharia e outros bens no valor de 100 mil dólares) de vários empresários, entre eles o produtor de Hollywood Arnon Milchen e o australiano James Packer, empresário que foi marido da cantora Mariah Carey.

Já na segunda, "Caso 2000", estão em causa alegados negócios entre Netanyahu e o dono do jornal israelita Yedioth Ahronoth. O primeiro-ministro terá negociado o favorecimento do jornal face à concorrência, o jornal Israel Hayom, em troca de notícias positivas ao governo por si chefiado.

Netanyahu já reagiu à notícia da recomendação da polícia. Numa declaração televisiva, o primeiro-ministro garantiu que continuará "a liderar Israel de forma responsável", que não se vai demitir, e que as acusações não têm qualquer fundamento, pelo que, assegura, "vão acabar em nada".

Netanyahu cumpriu um primeiro mandato entre 1996 e 1999, e lidera agora de novo o governo israelita desde 2009.

Sem rival aparente, irá bater o recorde de longevidade no poder em Israel, pertencente ao histórico David Ben Gourion, fundador do Estado de Israel, se conseguir chegar ao final da atual legislatura, que vai até novembro de 2019.

O ministro israelita da Justiça, Ayelet Shaked, já disse que um primeiro-ministro acusado oficialmente não é obrigado a demitir-se.

“Quando um primeiro-ministro é acusado, não é obrigado a demitir-se sem que tenha esgotado todos os recursos para se defender”, indicou também à agência France Presse o analista Ofer Kenig, do Instituto de Democracia de Israel.

No entanto, a lei permite ao parlamento desencadear um processo especial se o chefe do Governo for colocado em causa por obscenidade moral, acrescentou.

Na área política, os comentadores sublinharam que o destino de Benjamin Netanyahu vai depender em grande parte do ministro das Finanças, Moshé Khalon, líder do partido de centro-direita Koulanou.

Se esta formação política com dez deputados - em 120 - o abandonar, Netanyahu deixa de ter maioria parlamentar.

"Vão surgir pressões intensas sobre Moshé Kahlon", prevê Hanan Cristal, comentador político da rádio pública de Israel.

[Notícia atualizada às 22h17]