“Para o próximo domingo, estamos a sensibilizar as pessoas para não irem votar. Ou seja, como protesto. E uma vez que são eleições para a União Europeia, que sabemos estar por detrás deste processo bem como o nosso Governo, estamos a sensibilizar as pessoas para que não se dirijam às urnas para votar”, afirmou hoje à agência Lusa Armando Pinto, porta-voz da associação que está em processo de legalização.

A população da freguesia, que agrega as aldeias de Morgade, Carvalhais e Rebordelo, está a mobilizar-se contra a mina a céu aberto anunciada para esta localidade, numa altura em que já foi assinado o contrato de exploração entre o Estado português e a empresa Lusorecursos.

Armando Pinto acredita que “não é demasiado tarde” e referiu que as recentes notícias sobre o projeto da mina do Romano (Sepeda), nesta freguesia do distrito de Vila Real, foram uma "chamada de atenção" para a população.

“Queremos defender a nossa terra”, frisou, apontando ainda a possibilidade de avançarem para tribunal.

O responsável elencou “danos irreparáveis” para este território e exemplificou com o trabalho ininterrupto na mina e o barulho resultante, a “destruição do património ambiental” e o impacto na barragem do Alto Rabagão, “que fornece água para as torneiras de casas de vários concelhos”.

O presidente da Junta de Morgade, José Nogueira, disse que “há uma incompatibilidade muito grande” entre a mina e a classificação deste território como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e a Reserva da Biosfera declarada pela UNESCO.

“Se a mina avançar, provavelmente vamos perder essa denominação”, afirmou o autarca.

Para além desta preocupação, José Nogueira considerou também que a exploração vai “afetar os recursos hídricos” e a “saúde pública”.

A Lusorecursos já anunciou um plano de negócios para Montalegre, onde prevê investir cerca de 500 milhões de euros, criar à volta de 500 postos de trabalho e implementar uma unidade industrial.

José Nogueira referiu que, enquanto presidente de junta, não fica “indiferente”, contudo frisou que não quer “investimento e empregos a qualquer custo”.

“A população está contra, a junta está com a população”, sublinhou.

Domingos Pinto Alves, presidente do conselho diretivo de Morgade, lembrou a exploração de volfrâmio que “não deixou nada na freguesia, a não ser doenças e o território esventrado”.

“Vai tirar tudo à população e trazer poluição sonora, poeiras, vai tirar o bem que nós temos que é o ambiente, a floresta”, salientou.

José Carlos Castro, dos baldios de Carvalhais, disse que foram contactados pela empresa para “fazerem pequenas sondagens” e que, depois, foram “surpreendidos pela dimensão da prospeção mineira”.

“Agora, a nossa única posição é contra qualquer exploração que aqui queiram instalar”, salientou.

Este responsável lembrou que esta é uma zona de agricultura de subsistência e de exploração de gado e que a mina vai afetar muito o modo de vida da população.

“Tudo quanto seja desenvolvimento para o território, criação de riqueza, criação de emprego e fixação de pessoas a câmara é a favor, desde que tudo isto seja casável com a obrigação que temos de defender o património ambiental e paisagístico que é a nossa maior riqueza”, afirmou o presidente do município de Montalegre, Orlando Alves.

O autarca salientou que a “câmara está sempre ao lado das populações”.

Contactada pela agência Lusa, a Lusorecursos não se quis pronunciar, referindo apenas que está em fase de elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA).

“Esse estudo é que vai definir as regras da intervenção e é em sede de audiência prévia ou de auscultação pública que a câmara vai aportar os considerandos que tem a fazer à volta de tudo isto e que as populações também o podem fazer”, sublinhou o presidente da câmara.