“Guaidó era o símbolo de luta, a cabeça da oposição e uma esperança de câmbio que atingiu 63% em fevereiro de 2019. A expectativa caiu, 19% da população acredita que a ação opositora pode afastar Nicolás Maduro do poder nos próximos três meses”, disse o presidente da Datanálisis.

Numa entrevista ao programa “Vladimir a la Carta” José Vicente León explicou que “com o tempo a sua simbologia se foi debilitando” e hoje o líder opositor e a Assembleia Nacional (AN, parlamento opositor) “não são mais que um símbolo”.

Segundo José Vicente León, desde que a oposição ganhou a maioria parlamentar, em dezembro de 2015, o parlamento “foi eliminado em termos da sua capacidade de ação”, e hoje não funciona no Palácio Federal Legislativo, não tem leis criadas e em vigor.

Por outro lado, a Assembleia Constituinte (composta unicamente por simpatizantes do regime) e o Supremo Tribunal de Justiça, têm eliminado o seu poder com decisões políticas até deixar Guaidó sem nenhuma possibilidade de ação real.

No entanto, sublinhou que o parlamento ainda é visto por uma parte da população como “um símbolo da luta opositora pelo câmbio, pelos direitos, pela legitimidade, pelo respeito pela opinião da população”.

Mas insiste que “Guaidó não é um presidente em exercício, não tem controlo territorial”, lembrando que chegou a ser “o mais importante símbolo de luta” e conseguiu “apoio e ser recebido por muitos países, paralisar muitas coisas ao Governo”, congelar e controlar alguns ativos venezuelanos no estrangeiro.

“No ano passado, o Governo não lhe podia tocar, não o podia deter, porque tinha medo das represálias americanas e de construir um monstro político, um mártir. Deixou-o trabalhar, mas com alguns controlos, prendeu pessoas em seu redor, fechou os hotéis onde dormia e foi limitando a sua ação, à espera que se debilitasse”, frisou

Segundo José Vicente León “chegou o momento em que (o Governo) pode ir contra” Juan Guaidó, “com menos risco de levantamento popular e de articulação opositora”, porque comprou, obrigou ao exílio, e prendeu deputados, usou o Supremo Tribunal de Justiça para nomear novas autoridades eleitorais e validou a direção do parlamento chavista.

Com a suspensão das direções dos dois grandes partidos opositores (Ação Democrática e Primeiro Justiça), fraturou a oposição e deixa os opositores fora dos partidos, sem os seus símbolos, disse.

“O governo nunca vai permitir uma eleição transparente”, frisou.

A Venezuela tem, desde janeiro, dois parlamentos parcialmente reconhecidos, um de maioria opositora, liderado por Juan Guaidó, e um pró-Regime, liderado por Luís Parra.

A crise política, económica e social na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino do país, até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um Governo de transição e eleições livres. Guaidó conta com o apoio de quase 60 países.