“Explicámos tudo pormenorizadamente, sublinhámos que era de caráter provisório e atendendo ao que se tinha passado em março, em que ficámos sem gráfica e sem logística, sem distribuição. De alguma forma é injusto e incorreto tudo o que estão a dizer agora, em agosto, quando foram informados atempadamente, em junho”, defendeu Paulo Gonçalves, porta-voz da Porto Editora, em declarações à Lusa.
Algumas livrarias de bairro vão desistir de vender manuais escolares e outras já pediram empréstimos bancários para conseguir fazer encomendas à Porto Editora que este ano exige um número mínimo de manuais.
Mais de mil papelarias de todo o país já aderiram à plataforma criada pelo Ministério da Educação para distribuir manuais gratuitos aos alunos do 1.º ao 6. ano, mas algumas estão a ponderar desistir.
A Porto Editora decidiu este ano estabelecer quantidades mínimas, por título, para aceitar pedidos, sendo que os livreiros só conhecem as regras no ato da encomenda, ficando a saber no momento qual o mínimo de encomenda para cada manual, que pode variar entre um mínimo de dois livros, mas estender-se a quatro ou seis manuais.
Paulo Gonçalves referiu que nem todos os manuais têm uma quantidade mínima obrigatória nas encomendas e quando existem são, sobretudo, para manuais com maior tiragem, com mais escoamento no mercado, defendendo que os mínimos impostos “são perfeitamente razoáveis” e que não estão a ser impostas “encomendas esdrúxulas”.
“Estão a atirar para cima da Porto Editora o ónus, quando tem sido a Porto Editora que mais tem lutado pelos pequenos livreiros ao longo dos anos. Fomos nós que lutámos pela plataforma que garantisse a presença dos pequenos livreiros na compra dos manuais”, afirmou em referência à plataforma eletrónica criada este ano para distribuir manuais escolares, permitindo a presença de pequenos livreiros no circuito comercial dos manuais escolares, ao adotar um sistema de troca de ‘vouchers’ pelos livros.
Paulo Gonçalves disse ainda que as regras criadas este ano pela editora não discriminam pequenos e grandes livreiros, sendo iguais para todos e comunicadas ao mesmo tempo, em junho.
A explicação para a regra de encomendas este ano é logística, resultando das dificuldades de distribuição criadas pelo fogo na gráfica da editora, em março, que obrigou a Porto Editora a montar um esquema logístico alternativo para poder distribuir manuais escolares este ano.
“Esta questão de encomenda mínima obrigatória tem a ver com haver regras de encomendas para que nós possamos satisfazer antecipadamente as encomendas que nos são feitas e satisfazer todas as que nos chegam de todo o país. Se não houver regras nas encomendas a partir de determinada altura a distribuição é prejudicada, porque começa a haver focos de ausência de livros em livrarias, porque outras não respeitaram as regras das encomendas”, explicou.
Os pequenos livreiros ouvidos pela Lusa afirmaram que a regra de encomendas mínimas por manual põe em causa a sobrevivência das livrarias, uma vez que não têm capacidade financeira nem espaço físico para acumular o ‘stock’ que as novas regras implicam.
Ao deixar de vender manuais escolares, a sobrevivência das livrarias fica ameaçada, já que a venda de manuais é uma das principais fontes de receitas.
Em alguns casos os pequenos livreiros decidiram pedir empréstimos bancários e a familiares para poder suportar as novas regras e evitar o fecho.
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