"Temo que se tenha aberto novamente uma caixa de Pandora porque, legitimamente, cada um dos municípios vai quer ter as suas linhas. Não posso pedir ao presidente da Câmara da Trofa que, agora, voluntariamente, abdique da linha da Trofa. E não estou a atacar, mas sabemos que ela não terá tanta procura, como a ligação das Devesas [Gaia] ao Porto", afirmou Rui Moreira, no final da reunião do executivo de hoje, onde PS e CDU criticaram a ausência de uma visão metropolitana na proposta de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) do Porto.
Aos jornalistas, o independente lembrou que o poder de decidir sobre as linhas de metro já tinha sido outrora dos municípios, mas a falta de um consenso levou à adaptação de um modelo diferente, baseado em estudos de procura e análise de custo benefício.
"O Porto foi beneficiado e prejudicado com isso. Nós, o Porto, preferíamos a Linha do Campo Alegre, mas verificou-se, na altura, que não era a linha que tinha mais procura. Era a linha Rosa e, por isso, fez-se a linha Rosa", disse, acrescentando que, à data, foi até criticado por não ter feito as exigências que devia.
Com a decisão do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, de devolver aos municípios capacidade de decisão nesta matéria, cabe novamente às autarquias decidir quais as linhas de metro prioritárias, o que Moreira teme seja feito sem os devidos estudos de procura.
"Acho que se deve decidir cá e deve ser a administração do Metro. Acho que o que se deve ter sempre presente são estudos que tenham a análise custo/benefício", defendeu, reiterando que "isso não for feito" pode abrir "a caixa de Pandora".
O autarca teme que se deixe cair este argumento e se regresso ao passado, quando as decisões eram políticas.
"Lembremo-nos que, no passado, aquilo que acontecia é que era muito por razão política que se faziam determinadas linhas e determinadas estações, incluo o Porto nisto", salientou, lembrando que também ele foi dos que contestou a decisão de fazer uma estação entre a Trindade e São Bento.
O independente receia que com "a bazuca" financeira anunciada pela Comissão Europeia "se comece a fazer reabilitação urbana" e a tomar decisões que nada "tem a ver com um plano integrado" que defende.
"Acho que devia haver um plano integrado metropolitano que nos desse mais garantias, porque impacto do metro é um impacto metropolitano", disse.
Para Moreira, se não há dúvidas que a ligação das Devesas, em Vila Nova de Gaia, até ao polo universitário do Porto, no Campo Alegre, faz sentido, outras ligações há, como a linha das Devesas e Santo Ovídeo, também em Gaia, que levantam dúvidas.
"Eu pergunto: e a ligação das Devesas a Santo Ovídeo vai ser feita porquê? Porque há estudos de procura que justifiquem isso? A minha dúvida sempre é que se deixe cair esse argumento e que se volte ao passado", reiterou.
Na reunião extraordinária do executivo municipal de hoje, a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, defendeu que as questões da mobilidade, no âmbito da proposta de revisão do PDM, deviam ser integradas mais numa perspetiva metropolitana, lamentando que esse trabalho "conjunto", não esteja ainda a ser feito.
O vereador do PS Manuel Pizarro defendeu a necessidade de uma reflexão mais cuidada sobre as questões da mobilidade, considerando que o "grande problema" da mobilidade no concelho é a sua envolvente.
O socialista considera que alguns projetos previstos podem colocar em risco decisões futuras sobre a expansão da rede de Metro, como a definição de corredores de autocarro de alta qualidade (CAAQ).
Nesta matéria, a proposta de revisão do PDM, cujo envio para discussão pública foi hoje aprovado com a abstenção de PS, PSD e CDU, prevê ainda, no que respeita ao transporte coletivo, a definição da rede estruturante de corredores BUS e das áreas intermodais do município: Campanhã, Boavista, Asprela e Centro.
Está ainda prevista a definição de parques de estacionamento dissuasores adjacentes aos grandes eixos de transporte coletivo: ferrovia pesada, metro e corredores BUS.
Em matéria de estacionamento, propõe-se uma alteração do paradigma de estacionamento privado para funções não habitacionais no Centro e nas zonas de influência das estações de Metro, bem como a criação das ‘Zonas XXI' - projetos piloto de progressiva eliminação de áreas de estacionamento no espaço público.
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